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Tambaqui pode virar commodity brasileira no mercado global de pescado

André Julião | Agência FAPESP – Um peixe com grande produção de filhotes, altas taxas de crescimento, dieta majoritariamente vegetariana, resistência a baixas quantidades de oxigênio na água e com demanda no mercado é o sonho de qualquer piscicultor.

Segunda espécie em produção no Brasil, atrás apenas da tilápia, peixe amazônico tem carne apreciada e alto rendimento. Mas para conquistar o mundo é preciso investimento em pesquisas voltadas ao melhoramento da espécie, afirmam pesquisadores da Universidade de Mogi das Cruzes (foto: Wikimedia Commons)

Sem que houvesse grandes investimentos em inovação e melhoramento genético, o tambaqui (Colossoma macropomum) reuniu essas características e alcançou uma produção anual de 100 mil toneladas no Brasil, atrás apenas da tilápia, com cerca de 500 mil toneladas.

A diferença é que a espécie africana foi alvo de um grande programa de melhoramento a partir dos anos 1980, na Ásia. A variedade melhorada – conhecida como GIFT (sigla em inglês para tilápia de criação geneticamente melhorada) – é produzida hoje em 14 países, incluindo o Brasil, que tem ainda uma cadeia de empresas dedicadas à pesquisa e desenvolvimento de produtos voltados a esse mercado.

Por conta de suas características naturais, o tambaqui, peixe nativo dos rios amazônicos, é apontado por pesquisadores como dono de um potencial no mercado não apenas nacional, como global, podendo se tornar uma verdadeira commodity brasileira. No entanto, faltam investimentos em inovação, apontam pesquisadores em artigo publicado na revista Reviews in Aquaculture.

“Um peixe amazônico, com dieta 75% vegetariana e manejo muito fácil, tem um enorme potencial como produto sustentável, num momento em que a aquicultura está sob ataque por conta dos impactos no meio ambiente causados, por exemplo, pela cultura do salmão, primeiro peixe a se tornar uma commodity internacional”, conta Alexandre Hilsdorf, professor e pesquisador do Núcleo Integrado de Biotecnologia da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), primeiro autor do estudo.

O trabalho reúne o conhecimento mais recente sobre diversos aspectos da cultura do tambaqui, desde a história da produção no Brasil – as primeiras tentativas de domesticação datam ainda dos anos 1930 –, passando pelos sistemas de produção, genética, nutrição, doenças, até os métodos de processamento.

Melhoramento genético

Parte da produção científica sobre o peixe nos últimos anos foi apoiada pela FAPESP, que financiou pesquisas de alguns dos autores do trabalho, como o próprio Hilsdorf, coordenador do projeto “Estudo integrado de genética quantitativa e genômica para caraterísticas de interesse zootécnico em tambaquis (Colossoma macropomum)”.

O pesquisador foi um dos responsáveis pelo sequenciamento e pela análise do genoma da espécie, publicado em setembro de 2021. Hilsdorf coordenou ainda estudo que caracterizou tambaquis sem espinhas intermusculares – aquelas em forma de “Y” que ocorrem dentro da carne de algumas espécies. Outro trabalho identificou genes possivelmente associados à ausência dessas espinhas no tambaqui (leia mais em: revistapesquisa.fapesp.br/o-genoma-do-tambaqui/).

Em trabalho anterior, seu grupo estimou parâmetros genéticos de várias características do tambaqui, como os que determinam a área do lombo, um dos cortes mais apreciados pelos consumidores. Reunidos, os trabalhos estabelecem parâmetros científicos para o desenvolvimento de variedades genéticas melhoradas para o mercado.

“O lombo suíno, por exemplo, foi alvo de melhoramento genético. As raças de porco que temos hoje no Brasil foram selecionadas de forma a terem a capa de gordura reduzida e a área de lombo aumentada. O melhoramento pode fazer com que os cortes de tambaqui chamados de lombo, banda e costela resultem em produtos ainda melhores que os atuais”, explica o pesquisador.

Manaus é o principal mercado consumidor de tambaqui. Enquanto nos anos 1970 a cidade dependia quase totalmente da pesca para suprir a demanda pelo peixe, hoje tem nos piscicultores de Estados vizinhos – Acre, Rondônia e Roraima – seus principais fornecedores.

Nos restaurantes manauaras, o peixe, que retirado da natureza chega facilmente a dez quilos, foi substituído pelos juvenis criados em cativeiro, com dois a três quilos. “Os donos de restaurante preferem este último, pois é um produto mais padronizado”, diz Hilsdorf.

Paradoxalmente, as características que fazem do animal tão vantajoso para criação em cativeiro acabam afastando investimentos em melhoramento. As matrizes, peixes que servem como reprodutores, ainda hoje são adquiridas de outros piscicultores ou mesmo capturadas na natureza.

A grande produção de alevinos (filhotes) e o crescimento rápido em relação a outras espécies (pode chegar a dois quilos em um ano), além da resistência a ambientes com pouco oxigênio, fazem com que os produtores não invistam em melhoramento.

“Não investir porque a espécie já tem um bom desempenho é um raciocínio errôneo. Se o peixe chega a dois quilos em um ano, com melhoramento poderia chegar a esse peso em nove meses, por exemplo. O produtor que investir nisso vai começar a vender alevinos ou matrizes para os vizinhos e estará à frente no mercado. É um investimento de longo prazo, de risco, mas a história mostra que há retorno”, opina o pesquisador.

O peixe vive em uma faixa de temperatura entre 25o C e 34o C, o que mantém a cultura praticamente restrita ao norte do Brasil. O desenvolvimento de variedades resistentes a temperaturas mais baixas, por exemplo, poderia viabilizar a cultura no resto do país.

Em vez disso, a solução encontrada foi o desenvolvimento de híbridos com espécies que vivem mais ao sul do Equador, como o pacu (Piaractus mesopotamicus), cujo cruzamento resulta no tambacu, e a pirapitinga (Piaractus brachypomus), que originou a tambatinga.

“Temos recursos genéticos suficientes para desenvolver variedades com diferentes perfis de tolerância a frio, a baixo oxigênio na água, a doenças, sem espinhas, com maior produção de filhotes e de carne, entre outros. Não necessitamos da produção de híbridos, que são um risco para a manutenção da integridade dos recursos genéticos selvagens devido aos escapes de pisciculturas. Os produtores necessitam ir além, com a busca de produtos geneticamente superiores para o estabelecimento de uma piscicultura economicamente e ecologicamente sustentável. É isso que o mercado no mundo todo exige atualmente”, encerra o pesquisador.

O artigo The farming and husbandry of Colossoma macropomum: From Amazonian waters to sustainable production pode ser lido em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/raq.12638.

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O estudo traz seis recomendações para o desenvolvimento da sociobioeconomia no Pará :  

  1. Políticas de C& T e Inovação, crédito e assistência técnica
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  3. Política fundiária e territorial das áreas de uso comum
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  5. Sistema de rastreabilidade e certificação dos serviços ambientais
  6. Política fiscal de redistribuição de renda gerada pelos produtos

Sumário Executivo do estudo

https://www.tnc.org.br/content/dam/tnc/nature/en/documents/brasil/sumario_executivo_bioeconomia.pdf

Estudo Completo

https://www.tnc.org.br/content/dam/tnc/nature/en/documents/brasil/projeto_amazonia_bioeconomia.pdf

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O manejo da castanheira-da-amazônia é uma atividade tradicional, chave para a economia de milhares de famílias extrativistas da Amazônia e para a conservação das florestas. Fernanda Lopes da Fonseca & Al empreendem neste artigo, um estudo de caso que integra as percepções de extrativistas, pesquisadores, gestores e técnicos. Para este estudo, foi adotada uma ferramenta de apoio à definição participativa de indicadores para a avaliação da sustentabilidade do  manejo  de  castanhais  nativos  e  da  viabilidade  do  extrativismo  da  castanha ao longo do tempo. 

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Assista: Thomas Lovejoy. A Celebration of Life.

“Uma das coisas que aprofundo com meus alunos é entender as origens da ciência e da conservação, para que eles compreendem de onde vieram e evitem a armadilha de repetir um erro ou provar algo já comprovado.”

“Ao escrever um artigo acadêmico, lembre que um leitor externo a academia pode lê-lo e eventualmente chegar a uma conclusão equivocada. Certifique-se de declarar claramente quais são as implicações políticas que apoiem sempre uma conservação responsável.”

“Minha geração está deixando para vocês uma Amazônia muito diferente daquela que encontramos: muito disso é bom, mas obviamente houve uma destruição considerável e condenável. O trabalho de assegurar uma Amazônia sustentável, repleta de ecossistemas incríveis e a maior concentração de biodiversidade terrestre do mundo, mal está concluído e precisa de você”

Leia e entrevista completa de Tom Lovejoy, publicada no número especial Bioma Amazônia (2019) da Revista de Estudos Brasileiros da Universidade de Salamanca

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BNDES fará leilão de créditos de carbono em 2022

Paulo Silva Pinto. 24.dez.2021
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O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) quer incentivar o mercado de carbono no Brasil, disse ao Poder360 o diretor de Crédito Produtivo e Socioambiental, Bruno Aranha, 42 anos.

Ele participou da COP26, em Glasgow, na Escócia. Assista abaixo à íntegra da entrevista:

Aranha afirma que haverá uma compra piloto por meio de carta-convite no fim do 1º semestre de 2022, de cerca de R$ 20 milhões, e um leilão de R$ 50 milhões até o fim do ano

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Bioeconomia em destaque no Jornal da Ciência

Além de um editorial dedicado ao tema, a publicação trata, em oito artigos, dos aspectos econômicos, culturais e tecnológicos que se apresentam como desafios para a ciência na implantação de modelos de desenvolvimento baseados na biodiversidade.

O volume está disponível para download pelo link abaixo.

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II Fórum PPBio. Destaques

Organizado pelo Idesam, coordenador do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPbio) e o Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico de Manaus (Codese) o 2º Fórum Programa Prioritário de Bioeconomia, que integrou a programação da 3ª Feira do Polo Digital de Manaus 2021 trouxe como tema central desta edição: ‘Inovação e Investimentos para a Amazônia’.

Além dos painéis de debate com a participação do Ministério da Economia, Suframa, Ufam e Innovation Hub Israel Brazil, a programação abriu espaço para apresentação de cases de projetos de bioeconomia.

A integra das mesas está disponível em vídeo pelo canal dos organizadores do encontro

Em anexo o documento preparado por Elis Regina Monte Feitosa doutoranda da FEA/USP incorporando alguns destaques do 2′ Forum.