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Arqueologia na Amazônia e o futuro da floresta

A utilização de tecnologias avançadas, como sensoriamento remoto, imagens de satélite, drones e análises de dados geoespaciais, tem permitido aos arqueólogos mapear e estudar áreas extensas da Amazônia de forma mais eficiente e detalhada. Pesquisas arqueológicas continuam a estudar a relação entre as populações humanas antigas e o ambiente incluindo padrões de assentamento, uso da terra, práticas agrícolas. A descoberta e documentação de arte rupestre e outros tipos de estruturas como geoglifos e antigas estradas, fornecem uma visão sobre as culturas e sociedades antigas que habitavam a região, bem como suas práticas culturais, religiosas e econômicas. O fato de a região ter sido um polo de desenvolvimento independente de cerâmica, cultivo de espécies vegetais e de adensamento populacional, indica que os povos que habitavam essa região no passado encontraram soluções para estes problemas condizentes com as condições climáticas e as características da paisagem da Amazônia.

Além das contribuições para a proteção e preservação do patrimônio arqueológico da Amazônia, à medida que a região enfrenta pressões de desenvolvimento, desmatamento, mineração e outras atividades que podem impactar sítios arqueológicos e artefatos culturais, os estudos arqueológicos na Amazônia também contribuem para a compreensão das mudanças climáticas passadas e da história ambiental da região, fornecendo dados sobre variações climáticas, padrões de ocupação humana e adaptações às condições ambientais em evolução.


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Respeito ao protagonismo dos povos da Amazônia

Diego Coppio. FEA-USP, 11 de março de 2024
Imagens de Marcos Santos

A exploração da Amazônia da forma que é feita atualmente é injusta com os nativos da região, que têm seus conhecimentos sobre o território invalidados e desrespeitados. A opinião é do secretário do Meio Ambiente do Amazonas, Eduardo Taveira (foto à dir). “A agenda de meio ambiente tem que ter outro olhar, não é de domínio europeu. A nossa agenda é de quem sofre os impactos das mudanças climáticas da maneira mais perversa e não tem como se adaptar: uma agenda que descarta o conhecimento tradicional associado ao uso dos recursos naturais para sua própria existência. Quando você muda esse regime de conhecimento, você perde a capacidade de conexão das populações originárias com a realidade onde eles são mestres e doutores”.

O secretário Eduardo Taveira esteve na FEA nos dias 19 e 20 de fevereiro, junto com o reitor da UFPA (Universidade Federal do Pará), Emmanuel Zagury Tourinho, para debaterem os desafios do desenvolvimento sustentável e da governança ambiental na Amazônia. As palestras fizeram parte da programação da Disciplina Concentrada “Governança Ambiental: Bioeconomia na Amazônia”, organizada pelos professores Jacques Marcovitch e Maria Sylvia Saes, através do Projeto Bioeconomia – Estudo das Cadeias de Valor no Estado do Amazonas – da FEAUSP. Antes do debate, o reitor da UFPA foi recepcionado pelo reitor da USP, Carlos Carlotti, e pela diretoria da FEA.

Na ocasião, os palestrantes ressaltaram a necessidade de assegurar o protagonismo intelectual e decisório aos povos nativos da Amazônia, ao invés da prevalência de políticas externas que enxergam a Amazônia como um território a ser integrado ao restante do país. 

Emmanuel Tourinho, Reitor da Universidade Federal do Pará

Emmanuel Tourinho, Reitor da Universidade Federal do Pará

“É incrível como o Brasil manteve a política de desenvolvimento ao longo dos anos de negar a realidade amazônica, de apagá-la, domesticá-la e de não reconhecer a prioridade do conhecimento sobre biodiversidade e manejo inerente às populações tradicionais. A Amazônia sempre foi vista como um lugar a ser integrado, fora do eixo, a ser conquistado. Parece que nunca fizemos parte da realidade brasileira “, denunciou Taveira. 

Essa é a lógica do “princípio do vazio”. Segundo o reitor da UFPA Emmanuel Tourinho (foto à esq.), trata-se da ideia de que a Amazônia é um território de baixa densidade populacional com extensas faixas de território desocupado, que orienta grande parte das decisões sobre políticas públicas para a região, tomadas por agentes externos, que julgam dispensável a inclusão de populações nativas em papéis de protagonismo.

Busca por soluções

Para Emmanuel Tourinho, a resposta do problema envolve o investimento na pesquisa acadêmica e participação ativa de movimentos sociais na região. “Eu me admiro de não haver políticas públicas que aproveitem a capacidade de atuação das universidades, elas são muito enraizadas na realidade social. Onde tem universidade é diferente, há maior consciência ambiental, maior luta por direitos, maior conservação dos biomas, maior renda porque a economia também aquece. Recentemente foi publicado um estudo sobre o que se conhece da biodiversidade amazônica. E os locais onde mais se conhece têm a ocorrência de universidades”.

O reitor da UFPA alega haver um subfinanciamento nas universidades da região amazônica, quando comparadas com as do Sudeste. Segundo ele, a UFPA é a segunda maior federal do país, com mais de 50 mil alunos, e possui orçamento menor que algumas federais do sul e sudeste, mesmo com um contingente maior de alunos. “É preciso entender que, se for para salvar a Amazônia, então fortaleça as instituições da Amazônia. O fortalecimento das universidades da Amazônia não concorre com as outras. Se existir uma rede de excelentes universidades na Amazônia, não vai diminuir nenhuma universidade de outro lugar, só vai fortalecer todo mundo”, argumentou Tourinho.

Tendo isso em pauta, a UFPA criou, em 2023, o Centro Integrado da Sociobiodiversidade da Amazônia (CISAM), uma rede de pesquisadores que engloba as 13 universidades localizadas na Amazônia Legal. “O CISAM busca produzir respostas interdisciplinares e multidimensionais para os problemas da Amazônia, em ações que não duram o tempo de um projeto, mas são perenes, envolvem conhecer e promover a procriação do conhecimento pela sociedade”, explicou o reitor da UFPA. Composto por oito redes temáticas de pesquisa, o CISAM busca integrar em seu funcionamento a ideia de protagonismo do conhecimento amazônico obtido através da interação com a realidade da região, e de pesquisas formuladas no território, em detrimento de projetos importados de outras realidades.

Além da falta de protagonismo decisório da população amazônica, o secretário do Meio Ambiente do Amazonas acredita que o excesso de burocracias e a agenda política também interferem na formulação de políticas públicas em prol do desenvolvimento sustentável na região. Taveira citou o Fundo Amazônia, criado em 2008, como um mecanismo eficiente, mas que teve suas operações paradas por quatro anos, até ser retomado por sua gestão. “É um fundo associado a doadores, que colocam recursos a partir da aposentadoria das emissões. É um mercado voluntário. Mas o Fundo Amazônia também precisa se desburocratizar, da maneira que está hoje, é muito difícil que estados e universidades públicas executem os recursos”, explicou.

Lucas Xavier (UESC), Sylvia Saes ( Vice diretora da FEA/USP), Jacques Marcovitch ( Projeto Bioeconomia),  Carlos Carlotti Jr (Reitor da USP), 
Dolores Montoya ( Diretora da FEA/USP),  Emmanuel Tourinho ( Reitor da UFPA)  João Paulo Capobianco ( Secretário Executivo do MMA), Carlos Pacheco (Diretor-presidente da Fapesp)  João Arthur Reis ( Amazonia + 10 da Fapesp)
Lucas Xavier (UESC), Sylvia Saes (Vice diretora da FEA/USP), Jacques Marcovitch (Projeto Bioeconomia),  Carlos Carlotti Jr (Reitor da USP), Dolores Montoya (Diretora da FEA/USP),  Emmanuel Tourinho (Reitor da UFPA)  João Paulo Capobianco (Secretário Executivo do MMA), Carlos Pacheco (Diretor-presidente da Fapesp) e João Arthur Reis (Amazonia + 10 da Fapesp)

“Vale a reflexão a respeito de mecanismos rápidos de transferência de recursos. Temos que ter a capacidade de desenvolver um mercado de ativos ambientais, seja por meio de florestas manejadas, de ativos e recursos genéticos presentes na biodiversidade, no reconhecimento e valorização do conhecimento tradicional associado ao uso desses recursos”, concluiu Taveira.

O secretário ainda mencionou o Fundo Verde para o Clima, criado em 2010 na COP-16, dedicado ao financiamento de projetos em países vulneráveis que objetivem a redução das emissões de carbono e das mudanças climáticas. Para Taveira, o projeto ainda está distante das metas propostas, sendo que a intensa burocratização também é um percalço no acesso aos recursos. “Os países ricos não fizeram sua parte em uma agenda ambiental importante para corrigir as injustiças climáticas proporcionadas por um sistema de crescimento global no qual somos apenas geradores de matéria prima. Por isso que a agenda ambiental é geopolítica. No fundo, todos ficam jogando a responsabilidade de quem vai dar o primeiro passo. Mas se falamos de justiça climática, não são as regiões pobres a causa das mudanças”, defendeu.

Preparações para a COP-30 em Belém

Emmanuel Tourinho comentou sobre a realização da COP-30 em 2025, sediada em Belém. Segundo o reitor da UFPA, a universidade receberá a 76ª cúpula anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência em julho de 2024. Ele acredita que essa reunião possa servir como uma preparação da comunidade científica brasileira para a Conferência das Nações Unidas. “Estarão lá muitos dos principais cientistas brasileiros discutindo o futuro do país e do planeta no território amazônico, acolhidos pela instituição cuja vocação maior é pensar a Amazônia”, disse.

“Para o período da COP-30, em 2025, o que a UFPA pretende é construir uma programação de debates sobre a Amazônia que reúna cientistas e lideranças da sociedade. Uma espécie de COP da ciência e dos movimentos sociais pela Amazônia. Para essa programação, além de pessoas da própria região, esperamos contar com a participação de colaboradores brasileiros e estrangeiros que estejam interessados em saber o que pensa quem vive na região fazendo ciência ou então pela sobrevivência. Ainda não sabemos se essa programação ocorrerá como parte da COP 30 ou como iniciativa independente da UFPA e seus parceiros”, concluiu Tourinho. 

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Avaliação da Cúpula da Amazônia

A Cúpula da Amazônia reuniu pela quarta vez chefes de Estado e representantes dos países da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica).  A declaração firmada em 08 de agosto de 2023 registra a agenda conjunta de ações firmada pelos países da OTCA.  

Para avaliar os resultados e impactos da Cúpula da Amazônia, o Projeto Bioeconomia reuniu em 16 de agosto de 2023 os pesquisadores Adalberto Luís Val (INPA), José Augusto Lacerda Fernandes (UFPa) e João Meirelles Filho (Instituto Peabiru de Belém) para compartilhar sua análise e comentários sobre os seguintes temas:

  • 1.Contexto da Cúpula da Amazônia 2023
  • 2.Principais resultados da Cúpula da Amazônia 2023
  • 3. Impactos da Cúpula da Amazônia 2023
  • 4. Monitoramento dos impactos: metricas e indicadores
  • 5. Como preparar a COP 30?  Como construir o futuro ?

A Declaração da Cúpula da Amazônia inclui, entre outros princípios e compromissos, a institucionalização de novas inciativas como a Aliança Amazônica de Combate ao Desmatamento, o Observatório de Mulheres Rurais para a Amazônia; o Observatório da Situação de Defensores de Direitos Humanos, do Meio Ambiente e de Povos Indígenas; e a Rede de Inovação e Difusão Tecnológica da Amazonia.

O tema Economia para o desenvolvimento sustentável consta dos itens 71 a 84 da Declaração da Cúpula da Amazônia

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#Diálogo Bioeconomia

Evento Híbrido

Dia 11 de abril de 2023,
das 16h30 às 17h30

FEA/USP. FEA-1, Sala Ruy Leme

Convidado

Jorge Sellare, Ph.D.
Research Group Leader Transformation and Sustainability Governance in South American Bioeconomies Center for development Research (ZEF)
University of Bonn

Coordenação Profs. Jacques Marcovitch e M Sylvia M. Saes 

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Três referências para acompanhar o debate sobre biodiversidade e clima


1.    Alocução de António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, na abertura do debate geral da 77ª Sessão da Assembleia Geral da ONU 

(Nova Iorque, 20 a 26 de setembro de 2022). https://media.un.org/en/asset/k1p/k1p449fd95

2.    Bioeconomia na Amazônia: Análise Conceitual, Regulatória e Institucional 

Pesquisa sinaliza riscos e aponta para a necessidade de formulação de uma estratégia para a promoção da bioeconomia na Amazônia

3.    Compromissos de resgate atualizado da Agenda Socioambiental Brasileira Perdida de Marina Silva

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Pagamentos por serviços ambientais na Amazônia

Sobre o Workshop

O Workshop PSA e as comunidades locais apresenta e discute um quadro de referência para o estudo das políticas de pagamento por serviços ambientais em diferentes escalas na Amazonia junto a comunidades, associações e cooperativas. Em complemento, a um quadro de referência conceitual e da legislação em vigor, são apresentados e discutidos casos de governança do uso do capital natural. Uma governança que almeja a consolidação das cadeias de valor dos serviços ecossistêmicos para criar condições favoráveis para os investimentos públicos e privados que levem ao fortalecimento das comunidades locais.

Programa

Dia 21 de setembro
quarta-feira 

Primeira parte

8h45 – 9h00 Abertura

  • Maria Sylvia M Saes, USP
  • Jacques Marcovitch, USP
  • Adalberto Val, INPA

9h00-10h30 Pagamentos de serviços ambientais: um quadro de referência  

  • Patrícia G C RuggieroCV | Slides
    Pesquisa a efetividade de mecanismos de incentivo à conservação da biodiversidade e promoção dos serviços ambientais, Pós Doutoranda no Departamento de Economia da FEA/USP
  • Carlos A KlinkCV | Slides
    Coordenador de ações com parceiros estratégicos para a melhoria do ambiente de negócios e práticas sustentáveis. Secretário Executivo do MMA e Secretário Nacional para Mudança do Clima ( 2012/2016). Professor de Ecologia na Universidade de Brasília (unb).
  • Bráulio de Souza DiasCV | Slides
    Diretor-presidente do Fundação Pró-Natureza. Secretário Executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica (2012-2017) Professor de Ecologia na UnB.

Segunda parte

10h45- 12h00 Casos em Pagamentos de Serviços Ambientais na Amazonia 

  • Chocolate De Mendes Slides
    Stefano Arnhold, Presidente da CBKK Celo de Bonstato Kaj Konservado para o bem-estar das comunidades e conservação da natureza 
  • Bolsa FlorestaSlides
    Lívio Miles Silva-Müller, pesquisador do projeto Elites & Desigualdade, Albert Hirschman Center on Democracy, IHEID Genebra 
  • Reserva Rio CautárioSlides
    Charles William Cookson, advogado com experiencia em gestão de investimentos para a conservação e recuperação de florestas naturais.
  • Ecomapuá REDD+Slides
    Lucas Ferrari, analista de Infraestrutura na Garín Investimentos 
  • Comentários de Ana Cláudia Torres Gonçalves, Programa de Manejo de Pesca do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

12h15 – 12h30 Síntese, conclusões e recomendações 

Realização: Projeto Bioeconomia FEA/USP/FAPESP e INPA/FAPEAM. Processo FAPESP 2020/08886-1

E-mail: mudarfuturo@usp.br


Missão do Projeto Bioeconomia:  Ampliar a compreensão de questões relativas às cadeias de valor com base na biodiversidade. Identificar fatores críticos para elevar a sustentabilidade das cadeias de valor no estado do Amazonas, com alto potencial de consumo no estado de São Paulo. Iniciativa que almeja ações que promovam nas comunidades produtoras a geração de emprego, renda, benefícios e bem-estar. 

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Triple Helix Conference 2021

Participação dos pesquisadores do projeto Bioeconomia na conferência internacional Triple Helix em 17 de junho de 2021.

  • 00:00 Introdução , Jacques Marcovitch – USP
  • 05:41 Bioeconomy Project, Adalberto Luis Val – INPA
  • 13:36 Bioactive compounds, Glaucia Maria Pastore – Unicamp
  • 20:00 Forestry for the recovery of altered areas, Mario Tomasiello – ESALQ e Marciel José Ferreira – UFAM
  • 29:07 Production chains of juvenile matrinxã, Sergio Ricardo Batlouni-UNESP
  • 37:24 Phytotherapic Chain Project, Rosana Corazza -Unicamp
  • 29:20 Summary, Jacques Marcovitch – USP
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O conceito de Bioeconomia no contexto amazônico

Reprodução. Jornal da FEA.
Cacilda Luna

Paulo Moutinho, cofundador do IPAM, durante o I Workshop de Bioeconomia INPA/USP

O cofundador do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Paulo Moutinho, disse que existe um “paradoxo” sobre o conceito de bioeconomia e defendeu uma discussão para se definir o sentido do termo que se quer adotar dentro do contexto amazônico. Segundo ele, “há uma profusão cada vez mais rápida de conceitos diferentes, cujo efeito de grande guarda-chuva pode matar todo o potencial da bioeconomia e do seu desenvolvimento, especialmente na região amazônica”. Moutinho participou do I Workshop de Bioeconomia, promovido pela FEAUSP em conjunto com o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), com o objetivo de discutir formas sustentáveis para a geração de emprego, renda e bem-estar na Amazônia. O evento foi coordenado pelo professor Jacques Marcovitch (FEAUSP).

O pesquisador sênior do IPAM afirmou que temos de “fugir da maquiagem” e fazer algo transformador, caso contrário estaremos colocando o prefixo “bio” na frente de todo tipo de economia desenvolvida na região amazônica. “Já escutei que produção de soja transgênica é uma expressão da bioeconomia, assim como uma atividade produtiva livre de fósseis, uma produção sustentável de madeira, ou mesmo o aumento de produtos florestais amazônicos. E temos outras coisas bem estranhas: a produção de óleo em terra indígena é bioeconomia porque traz royalties para os índios continuarem a ter o modo de vida preservado e seus direitos preservados”.

Paulo Moutinho citou como principal exemplo do uso inadequado do termo aquele que é considerado o ícone da bioeconomia da Amazônia: o açaí. Ele lembrou que houve uma supervalorização da produção do fruto nos últimos anos, superando até a rentabilidade da carne e da soja. Mas destacou que é necessário definir qual tipo de produção de açaí queremos qualificar como bioeconomia.

O cofundador do IPAM alertou que existe hoje uma série de métodos de produção de açaí, cuja demanda crescente estaria destruindo, em grande parte, o modo de produção tradicional dos ribeirinhos, resultando no que ele chamou de “açaização da paisagem amazônica”. Moutinho citou como principais métodos de produção a “produtivista” e a “conservacionista”. “A produtivista aumenta realmente a produção de açaí em duas ou três vezes, mas há um custo de redução de 50% da riqueza florística onde esse açaizal está implementado”, analisou o pesquisador.

Paulo Moutinho acredita que “não basta ter um produto ou uma cadeia de valor estruturada, produzindo algo que sai da floresta ou da região amazônica, para chamá-los de bioeconomia. Falar em açaí como sinônimo de bioeconomia é algo que a gente precisa se aprofundar mais”. Disse que não estava trazendo a solução para o problema, mas levantando pontos importantes para conceituar a bioeconomia amazônica e identificar as premissas fundamentais para o desenvolvimento sustentável da região.

Workshop: prioridades para o estudo da bioeconomia

A abertura do Workshop de Bioeconomia teve a participação do diretor da FEAUSP Fábio Frezatti, do diretor científico da FAPESP Luiz Eugênio Mello, além de Carlos Roberto Bueno (Fundação Amazônia Sustentável), Paulo Moutinho (IPAM) e Eduardo Coelho Cerqueira (UFPA). Os especialistas apresentaram as prioridades para o estudo da bioeconomia na Amazônia.

O pesquisador do IPAM, Paulo Moutinho, apontou o “desmatamento zero” como a principal prioridade. “Não há mais como avançar qualquer ação de bioeconomia onde se tenha, com muito poucas exceções, o avanço do desmatamento, seja ele ilegal ou legal. Caso contrário, a própria bioeconomia não se viabilizará”. Também defendeu uma distribuição justa de benefícios: “Se não falarmos disso não teremos uma bioeconomia para a Amazônia: benefícios para quem, para quê e em que escala isso deve ser feito”.

Outros pilares fundamentais apontados por Paulo Moutinho foram o fortalecimento das dinâmicas socioeconômicas e culturais no território, além do respeito e a inclusão dos saberes ancestrais. “É preciso ter humildade e reconhecer os saberes ancestrais, especialmente dentro do processo de produção tradicional”.

Há mais de 40 anos trabalhando na região amazônica, o biólogo e pesquisador do INPA Adalberto Luís Val disse que é errado falar em diversidade na Amazônia no singular, enquanto existem diversos aspectos a serem considerados, além da questão biológica, para a discussão de ações que envolvem a bioeconomia da região. Segundo ele, a diversidade na Amazônia é bastante complexa e abrange outras áreas essenciais citando entre elas a diversidade ambiental, geológica, química e cultural.

Adalberto Val afirmou que o debate sobre a bioeconomia da Amazônia deve levar em conta a “sensibilidade ambiental”. No seu entender, quanto maior a biodiversidade, menor é a densidade de ocorrência de organismos nessas áreas. “Quando estamos pensando em cadeias de valor, em inclusão social e geração de renda, a intervenção ambiental precisa ser pensada com todo o cuidado. Exportar material da Amazônia com custos ambientais significa ter impactos em outros segmentos econômicos extremamente importantes. Quando desmatamos para ter uma monocultura no lugar, significa termos menos serviços ambientais”.

O professor Jacques Marcovitch, da FEAUSP, levantou questões que considera importantes para o debate da bioeconomia da Amazônia. Destacou, entre elas, como centrar o desenvolvimento na dimensão humana e na sustentabilidade ambiental; como promover a capacitação e recapacitação de pessoas para a construção da nova era; como a transição digital torna possível uma economia mais inclusiva e mais resiliente; como a transição digital pode reduzir a informalidade, a própria ilicitude via as novas tecnologias; e como fazer da retomada econômica o espaço de oportunidade tanto na dimensão tecnológica quanto na dimensão da sustentabilidade, sempre colocando a dimensão humana no centro do processo.

Segundo ele, a região amazônica coloca imensos desafios nesse momento para os pesquisadores, para o Brasil e para a humanidade. Marcovitch disse que a crise sanitária aumentou as desigualdades na região, houve deterioração das condições e trabalho e renda, e vivenciamos hoje “profundas mudanças na nova era”, onde despontamos como “construtores” e não como “objetos”.

O professor Jacques Marcovitch enalteceu, ainda, o trabalho da FEAUSP e da FAPESP como instituições que estão sendo desafiadas a pensar novos caminhos para a Amazônia. Marcovitch é o pesquisador responsável pelo projeto Bioeconomia – Estudos das cadeias de valor no Estado do Amazonas, pela FEAUSP/FAPESP. Informações sobre o projeto estão no site https://bioeconomia.fea.usp.br/Data do Conteúdo: Terça-feira, 3 Agosto, 2021

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I Workshop de Bioeconomia

Missão do Projeto Bioeconomia 

Ampliar a compreensão de questões relativas às cadeias de valor com base na biodiversidade para a geração de emprego, renda e bem-estar nos estados do Amazonas e de São Paulo. Identificar fatores críticos para elevar a sustentabilidade das cadeias de valor no estado do Amazonas, com alto potencial de consumo no estado de São Paulo.

I Workshop

O I Workshop de Bioeconomia tem por objetivo elencar prioridades e metodologias para o estudo da biodiversidade na Amazônia. Serão apresentados e discutidos modelos para a análise dos componentes das cadeias de valor e metodologias para identificar os fatores inibidores e propulsores, em prol da sustentabilidade e que levem a ações que promovam a geração de emprego, renda e bem-estar. 

Programa 

Dia 02 de agosto
segunda-feira 

11h00 às 11h15 – Abertura

  • Fabio Frezatti, Diretor da FEA/USP; 
  • Adalberto Luis Val, Projeto Bioeconomia INPA/Fapeam
  • Jacques Marcovitch, Projeto Bioeconomia USP/Fapesp 

Sessão I

11h15 às 11h45Prioridades para o estudo da bioeconomia na Amazônia. 

  • Luiz Eugênio Mello (FAPESP/São Paulo) 
  • Carlos Roberto Bueno (FAS/Manaus) 
  • Paulo Moutinho (IPAM Amazônia)
  • Lucia Py Daniel (INPA/Manaus)
  • Eduardo Coelho Cerqueira (UFPA/Belém)

11h45 às 12h05 Bioeconomia e cadeias de valor: modelo, metodologia e ações.    

  • Maria Sylvia Macchione Saes – FEA/USP.  

12h05 às 12h20Perguntas e respostas.  

12h20 às 12h30 – Síntese da sessão e recomendações. 


Sessão II

16h00 às 16h20 Bioeconomia na Amazônia: conceitos e práticas. 

  • Vanessa Pinsky – FEA/USP

16h20 às 16h35 Perguntas e respostas.  

16h35 às 16h55Sustentabilidade financeira de reservas extrativistas na Amazônia.

  • Izabel Seabra – UEA

16h55 às 17h10 Perguntas e respostas. 

17h10 às 17h30 Síntese da sessão e recomendações. 

Dia 03 de agosto – terça-feira


Sessão III 

11h00 às 11h20 – Compostos bioativos de plantas alimentícias para produtos com apelo funcional.

  • Glaucia Maria Pastore Engenharia de  Alimentos/Unicamp
  • Valdely Ferreira Kinupp – IFAM.

11h20 às 11h35 Perguntas e respostas.  

11h35 às 11h55Bioeconomia do cacau amazônico: mercados e perspectivas. 

  • Lucas Xavier – FEA/USP. 

11h55 às 12h10 Perguntas e respostas.  

12h10 às 12h30 Síntese e conclusões. 


Sessão IV 

16h00 às 16h20 A integração da cadeia de fitoterápicos amazônicos.

  • Maria Beatriz Machado Bonacelli – DCP/Unicamp                              
  • Jorge Ivan Porto – INPA.

16h20 às 16h35 Perguntas e respostas.

16h35 às 16:55 Estratégias silviculturais para o manejo e conservação de florestas tropicais secundárias

  • Mário Tommasiello Filho – ESALQ/USP
  • Marciel Ferreira – UFAM.

16h55 às 17h10 Perguntas e respostas.  

17h10 às 17h30Síntese da sessão e recomendações 

Dia 04 de agosto – quarta-feira


Sessão V

16h00 às 16h20 Desenvolvimento de competências em bioeconomia. 

  • Graziella Maria Comini – FEA/USP.

16h20 às 16h35 Perguntas e respostas. 

16h35 às 16h55 –   Bioeconomia e Cadeias de Valor – Ferramentas de formação para Gestão de empreendimentos rurais.

  • Tatiana Balzon- GIZ GmbH, Cláudia de Souza, CapGestão

16h55 às 17h10 Perguntas e respostas.  

17h10 às 17h30Síntese e seguimento do I Workshop Bioeconomia. 


Realização: Projeto Bioeconomia FEAUSP/FAPESP e INPA/FAPEAM

Processo FAPESP 2020/08886-1

E-mail: Projeto Bioeconomia mudarfuturo@usp.br

bioeconomia.fea.usp.br

Inscrição: https://forms.gle/Vhyn1nB8BYUdj3YC8

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Seminário internacional. U. de Salamanca

Acesse a programação e conteúdo completo do seminário no acervo da Universidade de Salamanca.

Assista a Sessão de Abertura no canal do CEB-USAL

Com o título de “Reflexões políticas e jurídicas sobre a proteção do meio ambiente e as políticas de desenvolvimento na Amazônia”, o CEB, Centro de estudos brasileiras da Universidade de Salamanca e a Fundação Cultural Hispano-Brasileira, organizam um seminário internacional, para abordar alguns dos problemas atuais desta extensa região.