Ao descrever os agentes econômicos e os ambientes institucionais do sistema do cacau (SAGCACAU) no Brasil, oferece uma visão da coordenação desse sistema a fim construir uma estrutura capaz de subsidiar a análise desse sistema sob o enfoque deste novo paradigma competitivo com base nos ODS de promoção da agricultura sustentável (ODS 2) e geração de empregos e renda decentes (ODS 8).
Com esses propósitos, este capítulo ambiciona dialogar e contribuir para as ações de diferentes partes interessadas na efetivação das condições de desenvolvimento sustentável a partir da competitividade de sistemas agroindustriais baseados na sociobiodiversidade, incluindo tomadores de decisão nos governos e empresas, organizações não governamentais e comunidades locais e tradicionais.
Sobre os autores: Lucas Xavier Trindade (PPGA/FEA/USP), Jacques Marcovitch (PPGA/FEA/USP) e João Pedro de Castro Nunes Pereira (DCET/PRONIT/UESC).
Este texto integra a coletânea dedicada aos estudos de cadeias produtivas agroindustriais. A coletânea é organizada por Gabriel da Silva Medina (UNB) e José Elenilson Cruz (IFB/Gama) com o título de “Estudos em Agronegócio: participação brasileira nas cadeias produtivas”, Editora Kelps, 2021. Download.
Por Walace de Jesus | Jornal da USP – Uma agroindústria flutuante foi inaugurada na Amazônia no último mês de maio. A Balsa-Açaí, como ficou conhecida, é uma indústria idealizada para processar frutas em comunidades mais distantes de Manaus, mas especialmente o açaí. O empreendimento é movido a luz solar e percorrerá os rios Amazonas, Solimões, Madeira, Purus, Juruá e Japurá. Com capacidade de armazenamento de 300 toneladas de açaí, o projeto pode transformar 20 toneladas de açaí por dia em 12 toneladas de polpa, além de beneficiar comunidades ribeirinhas com aumento de lucros e otimização do transporte do fruto.
A agroindústria é uma iniciativa do grupo Transportes Bertolini e da Valmont Solutions, que, juntos, investiram mais de R$ 20 milhões para a construção da plataforma flutuante. O primeiro destino da Balsa-Açaí foi Coari, município que fica a 363 quilômetros da capital amazonense. De acordo com o governo do Amazonas, o quilo do açaí no município está com valor médio de R$ 2,15 e a compra diária da indústria flutuante é de 400 sacas.
O amazônida e professor do Departamento de Ciências Florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo, Edson José Vidal da Silva, comenta que a iniciativa representa muitas vantagens para o mercado do açaí, mas que uma preocupação é a capacidade de produção da própria floresta. “A iniciativa é interessante, mas devemos nos preocupar com o manejo da espécie e pensar a produção de forma sustentável”, comenta.
“Quando pensamos em um produto não madeireiro e essa iniciativa não podemos esquecer a sustentabilidade da floresta em todas essas regiões em que a barca irá atuar”, explica. Para Vidal, é importante que a espécie consiga realizar suas taxas vitais para que não seja extinta localmente. “Se o fruto for exaustivamente retirado, impactos serão gerados para a fauna e à própria regeneração da espécie.”
Dentre a análise da nova indústria, o professor ressalta que a retirada da figura do atravessador e o maior aproveitamento do fruto são grandes vantagens para o sucesso da iniciativa. “Também podemos pensar em uma cadeia completa de aproveitamento dessa espécie para a economia dessas cidades”, sugere o professor. Além disso, para as comunidades ribeirinhas que moram distantes de Manaus, o projeto vai gerar otimização no transporte do fruto e maior lucro para os que o comercializam. “Vai reduzir o custo do transporte e também vai retirar a figura do atravessador, que acaba não deixando um recurso melhor para os ribeirinhos”, explica.
A iniciativa só pôde ser concretizada a partir da alteração do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) na Instrução Normativa n° 72/2018 com a Instrução Normativa n° 04/2021, que possibilitou o registro de estabelecimentos de produção de bebidas moveis a partir de critérios estabelecidos pela pasta da agricultura.
Vidal também revela que, além de relevância econômica, o açaí também tem importância nutricional para a população amazonense, que o consome não como uma simples sobremesa, mas muitas vezes como uma refeição completa. “É um produto importante e, ao longo do tempo, começou a entrar nas cidades com a migração do pessoal rural até se tornar esse fruto conhecido no mundo e aumentar o mercado”, explica. Ele também expressou sua preocupação em relação à acessibilidade dessas populações tradicionais ao fruto devido à crescente demanda.
Com o objetivo de estimular o imenso potencial do uso do Pirarucu de manejo proveniente das comunidades ribeirinhas da Amazônia, renomados chefs de cozinha que atual na cidade do Rio de Janeiros foram convidados a participar da primeira etapa do Projeto Gosto da Amazônia, com o propósito de criar receitas e analisar os resultados de diferentes formas de preparo desse pescado.
O projeto tem previstas cinco etapas e o objetivo é contribuir com a melhoria de qualidade de vida das comunidades envolvidas no manejo do pirarucu. Sobrte a iniciativa do SINDIRIO, confira a matéria no portal da entidade.
O Cocoa Action Brasil representa uma iniciativa pré-competitiva multistakeholder de caráter público privada criada em 2018. A World Cocoa Foundation (WCF) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) lideram a iniciativa que conta com a participação de diversas outras organizações com capacidades e recursos complementares com o propósito de aprimorar a competitividade e a sustentabilidade da cadeia de valor do cacau brasileira. Foi lançada no mês de maio um conjunto de diretrizes que visam a melhoria das condições de vida e de trabalho na cadeia produtiva do cacau. As diretrizes partem dos resultados dos estudos desenvolvidos pela OIT, o Ministério Público do Trabalho (MPT) e o Cocoa Action.
Como resultados desta iniciativa, pretende-se: 1) aumentar a base de conhecimento e conscientização sobre os direitos dos trabalhadores na cadeia produtiva do cacau; 2) fortalecer o por público local para promover o trabalho decente e manter as crianças na escola; 3) aumentar a produtividade e a renda dos produtores de cacau; 4) implementar o monitoramento das condições de trabalho na cadeia produtiva do cacau.
Para mais detalhes, consulte:
Vídeo do lançamento das diretrizes 2030
Diretrizes completas. Disponível em (Cadeia Produtiva do Cacau – Documento Sintese Lancamento Diretrizes)
Ricardo Cesar é engenheiro de pesca, mestre em Aquicultura pelo INPA, com cerca de cinco anos de experiência na região da Amazônia, sendo dois anos de pesquisa e três anos de prática profissional na piscicultura.
Documentos
Sumário da entrevista. Resumo e anotações de Elis Regina Monte Feitosa e Gleriane Ferreira sobre a entrevista com o Eng. Ricardo Cesar
A castanha-do-brasil possui histórica importância social e ambiental para a Amazônia, um bioma cuja conservação depende da viabilidade das estratégias de uso sustentável dos seus recursos. Além de gerar trabalho e renda para milhares de extrativistas, essa cadeia presta valiosa contribuição na conservação do bioma.
Partindo da análise das atuais formas de financiamento da cadeia, a Conexsus busca identificar oportunidades e caminhos para a ampliação do uso de financiamento na base da produção extrativista.
Esse documento visa ativar o ecossistema de negócios comunitários de impacto socioambiental visando à geração de renda no campo e à conservação de florestas e biomas.
O Instituto Conexões Sustentáveis – Conexsus é uma organização sem fins lucrativos que trabalha para ativar o ecossistema de negócios comunitários rurais e florestais para aumentar a renda dos pequenos produtores e fortalecer a conservação dos ecossistemas naturais.
O Instituto Terroá e parceiros, no âmbito do Projeto Mercados Verdes e Consumo Sustentável, cooperação entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ), publicaram dois estudos sobre Padrões de Sustentabilidade, um sobre a cadeia de valor do açaí e outro sobre a cadeia de valor da castanha-do-brasil.
Acesse os documentos
O objetivo das publicações é apresentar padrões de sustentabilidade adotados atualmente para esses dois produtos da sociobiodiversidade amazônica – com destaque para alguns dos sistemas de certificação mais utilizados – a partir de estudos de caso de associações, cooperativas e empresas certificadas atuantes no setor.
Esse artigo, escrito com colaboração de pesquisadores da UFAM e do INPA, trata de um levantamento sobre usos tradicionais em três diferentes comunidades na reserva Piagaçi-Purus no estado do Amazonas.
O texto refere-se à imensa complexidade das intereações entre ambiente e sociedade e sobre a importância de recuperar esse conhecimento na investigação dos aspectos socioculturais com implicações no desenvlvimento da região.
Desde fins dos anos 1980, o Brasil depende de importação de amêndoas de cacau para suprir a demanda da sua indústria. Esse déficit deve-se à expressiva perda de capacidade produtiva ocasionada pela vassoura de bruxa que prejudicou a produção do sul da Bahia.
Essa análise publicada no site mercadodocacau.com.br avalia o impacto da projeção da safra de 2021, explica os mecanismos de financiamento da produção em regime de drawback, subsidiando a produção para exportação e sugere que há demanda para investimento da produção do fruto em sistemas agroflorestais.
O Instituto Peabiru produziu uma série de documentários em vídeos curtos, com entrevistas e visitas a projetos relacionados com as cadeias de valor da floresta, sob a perspectiva da agricultura familiar.