Autor: pbelasco

  • DNA ambiental para identificação de espécies aquáticas

    Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

    André Julião | Agência FAPESP – Uma expedição científica pela bacia do rio Javari, na fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, mostrou ser viável usar o chamado sequenciamento de DNA ambiental para investigar a diversidade de peixes da Amazônia. O método consiste em extrair as moléculas de DNA presentes em amostras de água para depois avaliar, por meio de marcadores genéticos, a quais espécies pertencem.

    Publicado na revista Scientific Reports, o estudo também abordou as limitações atuais da técnica para o estudo de ambientes altamente diversos, como o amazônico.

    “Precisamos continuar capturando e identificando os animais pelos métodos tradicionais para criar bibliotecas de material genético. Elas servirão de referência para comparar com o que for encontrado nas amostras de água. Com os avanços da técnica, é possível que em alguns anos possamos saber todos os peixes presentes num lugar sem capturá-los”, diz Carlos David de Santana, pesquisador associado do Museu Nacional de História Natural da Smithsonian Institution, nos Estados Unidos, e primeiro autor do estudo.

    O trabalho integra o projeto “Diversidade e evolução de Gymnotiformes”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Naércio Menezes, professor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP). “A extração do DNA de amostras de água cria uma expectativa extremamente favorável à preservação do meio ambiente, pois os meios usuais de coleta de amostras de animais que vivem no ambiente aquático incluem uso de redes e outros apetrechos de pesca, que acabam causando impactos”, explica Menezes, coautor do artigo.

    Durante 18 dias, o grupo de pesquisadores percorreu toda a bacia do rio Javari. Em três dos 46 pontos onde ocorreram as coletas de peixes foram colhidas amostras de água. No total, a coleta resultou no surpreendente número de 443 espécies capturadas, sendo mais de 60 delas novas para a ciência.

    Nos pontos em que o DNA ambiental foi coletado, 201 espécies foram capturadas pelos métodos tradicionais. A análise do DNA ambiental, porém, só deu conta de identificar com precisão (em nível de espécie) 58 (26%) das amostras.

    “Uma das explicações para isso é a falta de material genético de referência em bancos de dados que possa servir de comparação. Nessa localidade em particular, porém, havia ainda o fato de muitas espécies serem completamente novas, desconhecidas mesmo pelos métodos tradicionais de identificação”, explica Gislene Torrente-Vilara, professora do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em Santos, outra coautora do estudo.

    A pesquisadora liderou a expedição como parte do projeto Amazon Fish, apoiado pela FAPESP, que resultou numa nova compreensão da distribuição das espécies de peixes da Amazônia (leia mais em: agencia.fapesp.br/31621).

    DNA em 100 mililitros de água

    Para sequenciar o DNA ambiental, os pesquisadores primeiro coletaram amostras de 100 mililitros de água em cada um dos três pontos predeterminados. A água passou por um filtro através de uma seringa e, então, foi misturada a uma solução que impede que o DNA se degrade.

    Atualmente, para identificar espécies de peixe presentes no DNA ambiental, o marcador genético mais utilizado no mundo é um fragmento do DNA mitocondrial conhecido como 12S. Para encontrar essa pequena parte do código genético na água, os pesquisadores utilizaram kits de extração de DNA tanto para sangue quanto para tecidos. Excrementos ou qualquer parte do animal que estiverem na água podem ser “capturados” pela técnica.

    O 12S, no entanto, é um trecho do código genético com uma evolução lenta. Por isso, possivelmente, não dará conta de identificar todos os peixes no nível de espécie, uma vez que na Amazônia muitas divergiram em mais de uma poucos milhões de anos atrás, o que é considerado recente em termos evolutivos.

    Também por esse motivo, o DNA ambiental foi capaz de fazer um retrato preciso apenas das ordens de peixes presentes nas amostras. Além disso, foi possível diferenciar as comunidades presentes em rios daquelas que habitam os igarapés, riachos que adentram a mata.

    Com a maior diversidade desses animais de água doce no mundo, a Amazônia contabiliza 18 ordens, subdivididas em 60 famílias. São mais de 500 gêneros e um número superior a 2.700 espécies.

    “Mesmo com uma biblioteca adequada será muito difícil conseguir identificar tudo ao nível de espécie com apenas esse marcador. Dois poraquês que divergiram recentemente, por exemplo, Electrophorus voltai e E. electricus, poderão aparecer como uma única espécie”, conta Santana (leia mais sobre as espécies de poraquê em: agencia.fapesp.br/31422).

    Nos próximos anos, contudo, espera-se que a técnica tenha avançado a ponto de ser possível sequenciar mais de um trecho de DNA simultaneamente e então definir com precisão as espécies. Até lá, é preciso criar as bibliotecas genéticas de referência. Santana acrescenta que pretende catalogar material genético de pelo menos todas as famílias de peixes amazônicos e da maior parte dos gêneros.

    Nesse contexto, os autores ressaltam que os museus de história natural são as instituições ideais para criar as bibliotecas genéticas de referência e armazenar amostras do ambiente. À medida que as tecnologias avançarem, o material depositado poderá ser sequenciado com precisão cada vez maior.

    “Os museus buscam preservar amostras da biodiversidade por longuíssimos horizontes temporais, disponibilizando-as para serem estudadas por gerações futuras. Para manter material genético viável por tão longo tempo, porém, essas instituições precisam implantar ou expandir significativamente suas crioinstalações, com readequações de seus espaços físicos e aquisição maciça de equipamentos como ultra freezers e tanques de nitrogênio líquido”, conclui Aléssio Datovo, coautor do estudo e curador de peixes do MZ-USP. A instituição foi a primeira no Brasil a depositar amostras de DNA ambiental.

    A técnica tem ainda potencial para realização de monitoramento ambiental e mesmo para engajar escolas e comunidades ribeirinhas na conservação do meio ambiente, por meio de programas de ciência cidadã (leia mais em: agencia.fapesp.br/36745).

    O artigo The critical role of natural history museums in advancing eDNA for biodiversity studies: a case study with Amazonian fishes pode ser lido em: www.nature.com/articles/s41598-021-97128-3.
     

  • Agronegócio do Cacau: Produção, Transformação e Oportunidades

    Estudo “Agronegócio do Cacau: Produção, Transformação e Oportunidades” realizado pela Fiesp, com apoio de Aipc – Associacao Nacional Das Industrias Processadoras De Cacau e ABICAB – Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas, lançado em 28 de agosto, mostra os resultados de desempenho de todos os elos da cadeia produtiva, através de gráficos e análises baseadas em dados recentes. O estudo, que pode ser acessado na íntegra também apresenta os desafios atuais enfrentados pelos produtores e indústrias, e as diversas oportunidades existentes no mercado interno.


    O Departamento do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo realizou este trabalho minucioso de compilação, sistematização, organização e cruzamento de diferentes dados estatísticos dispersos, de fontes públicas e privadas, internas e estrangeiras, com o intuito de contribuir com essa proeminente cadeia produtiva do agronegócio, com relevante base industrial instalada no Brasil e com potencial de crescimento.

    Foram consultadas bases de dados e pesquisas analíticas de fontes oficiais e públicas, com destaque para o Censo Agropecuário, Produção Agrícola Municipal (PAM), o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) e a Pesquisa Industrial Anual (PIA), todas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para o comércio internacional, sob a ótica brasileira, usamos os números da Comex Stat.

    O consumo interno brasileiro foi observado a partir da equação da produção somada a importação, subtraída a exportação. No caso da distribuição do consumo por categoria de produtos adotamos as informações da Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF, do IBGE, que foram sistematizadas e fornecidas pela área de Inteligência de mercado do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec-Fiesp), que nos permitiu analisar as informações mais recentes sobre o perfil do consumo de chocolates no varejo pelos brasileiros, em valor do dispêndio.

    Também adotamos dados do setor privado, como os da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) e da Associação Brasileira das Indústrias de Chocolate, Amendoim e Balas (ABICAB).

    Base de dados e pesquisas internacionais também foram utilizadas, com destaque para a base da International Cocoa Organization (ICCO), do Banco Mundial, FAOSTAT e Trade Map. Outras fontes de dados foram utilizadas para a execução deste estudo setorial, todas devidamente citadas.

    Além disso, foram consultados especialistas dos setores privado e público que atuam nos diferentes segmentos da cadeia produtiva, com o objetivo de refinar o entendimento das estatísticas oficiais e da dinâmica desse importante segmento industrial. Nesta etapa houve contato e reuniões com representantes de indústrias e entidades de classe do setor produtivo, dentre outros. Também foram realizadas consultas a trabalhos publicados, tanto brasileiros como estrangeiros.

    Este estudo tem por objetivo analisar a complexidade e relevância desse setor, que se estende da produção agrícola, ao processamento industrial dos produtos e aos serviços envolvidos na cadeia até chegar na mesa do consumidor. Esse fator é de extrema importância: cada elo da cadeia produtiva é vital para o sucesso do setor como um todo. Quanto mais integrados e engajados estiverem, maiores as chances de melhora na produtividade da cadeia e o seu crescimento. Por outro lado, a inobservância dessas variáveis em cada segmento pode causar prejuízos econômicos e sociais com impacto em todo o processo produtivo.

    Pretende-se também trazer luz às informações que são imprescindíveis para pautar o planejamento e a implementação de estratégias públicas e privadas dirigidas ao setor, com a perspectiva de agregação de valor e de fortalecimento da cadeia produtiva.

    Portanto, de promoção do desenvolvimento econômico. Nesse contexto serão apresentados os principais resultados referentes à cadeia produtiva brasileira. A fim de identificar mudanças estruturais, priorizou-se a avaliação no horizonte temporal de dez anos ou mais.

    A primeira parte do trabalho cobre as propriedades agrícolas produtoras de cacau, com indicação de área plantada, produtividade e o desempenho da produção, com a análise de diversas variáveis no tempo. Nesta etapa, identificou-se nas estatísticas oficiais importante diferença entre os volumes produzidos e os consumidos no Brasil.

    Na fase seguinte, avaliou-se a dinâmica dos mercados de processamento do cacau e o da fabricação dos produtos de chocolate. Este estudo procura ainda contribuir com a contínua busca de aprimoramento desses elos produtivos, que apresentam grande oportunidade de crescimento no mercado brasileiro, com geração de emprego, renda e desenvolvimento socioeconômico.

  • Relatório SPA. Painel Científico para a Amazônia

    O Relatório SPA Painel Científico para a Amazônia, que contou na sua coordenação com Adalberto Val propõe soluções, focadas em três pilares: preservação ambiental, desenvolvimento de uma bioeconomia sustentável e reforço dos laços entre as populações amazônicas, com criação de entidades supranacionais.

    O SPA desenvolve a visão de uma Amazônia viva que avança com iniciativas de restauração e uma transformação para uma nova bioeconomia dinâmica querespeita e reconhece os ciclos da natureza e os direitos humanos.

    Baixe o Sumário Executivo no site do SPA

    Comunicado à imprensa divulgado pelo SPA

    Fonte: http://www.abc.org.br/2021/09/23/painel-cientifico-amazonia-sumario-executivo/

  • Turismo de base comunitária em comunidades ribeirinhas

    Entrevista com Pedro Meloni, Pedro Meloni Nassar – Coordenador de Turismo de Base Comunitária do IDSM.

    Esta entrevista, realizada no ambito do Projeto Bioeconomia, aborda a pesca do Pirarucu na região de Mamirauá-AM. Pedro Nassar apresenta o processo de manejo, contagem, monitoramento, acordos de pesca além de descrever engajamento das comunidades e analisar a regulação pelo IBAMA.

    Participam da entrevista os integrantes do projeto Bioeconomia – FAPESP/FAPEAM

    • Profa Maria Sylvia Macchione Saes – FEA/USP
    • Elis Regina Monte Feitosa – Doutoranda FEA/USP
    • Ricardo Cezar Alves Vieira da Silva – Eng. de pesca Setembro de 2021.
  • Triple Helix Conference 2021

    Participação dos pesquisadores do projeto Bioeconomia na conferência internacional Triple Helix em 17 de junho de 2021.

    • 00:00 Introdução , Jacques Marcovitch – USP
    • 05:41 Bioeconomy Project, Adalberto Luis Val – INPA
    • 13:36 Bioactive compounds, Glaucia Maria Pastore – Unicamp
    • 20:00 Forestry for the recovery of altered areas, Mario Tomasiello – ESALQ e Marciel José Ferreira – UFAM
    • 29:07 Production chains of juvenile matrinxã, Sergio Ricardo Batlouni-UNESP
    • 37:24 Phytotherapic Chain Project, Rosana Corazza -Unicamp
    • 29:20 Summary, Jacques Marcovitch – USP
  • Novos arranjos produtivos para o cacau silvestre da Amazônia

    Yanomami

    Projeto de beneficiamento e comercialização de cacau silvestre por indígenas da Terra Yanomami compõe representa instrumento para a criação de alternativas ao garimpo, que afeta gravemente a vida dos Yanomami e Ye’kwana da região a partir do desenvolvendo atividades que interessam especialmente aos mais jovens.

    Saiba mais no site do Instituto Socioambiental e na página dos chocolates De Mendes.

    Tomé-Açu

    O cacau agroflorestal de Tomé-Açu no Pará representa o único produto do Estado com selo de Indicação Geográfica (IG) desenvolvido com o propósito de diferenciar o produto através da valorização da cultura, biodiversidade e economia da região. Para mais informações consulte a página institucional da IG cacau Tomé-Açu

  • Ciência, Tecnologia e Inovação na Bioeconomia Amazônica

    Nota técnica publicada pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação Sedecti do estado do Amazonas

    A nota é resultado de um extenso trabalho de escuta ativa realizado por meio de ações coordenadas pela Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) da Sedecti.  “Esse conceito sobre bioeconomia, que está em processo de construção da política estadual sobre esse tema, vem após a interlocução de vários atores e o próximo passo será a aprovação da lei para o segmento no Amazonas”. Secretária executiva da Secti, Tatiana Schor

  • O conceito de Bioeconomia no contexto amazônico

    Reprodução. Jornal da FEA.
    Cacilda Luna

    Paulo Moutinho, cofundador do IPAM, durante o I Workshop de Bioeconomia INPA/USP

    O cofundador do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Paulo Moutinho, disse que existe um “paradoxo” sobre o conceito de bioeconomia e defendeu uma discussão para se definir o sentido do termo que se quer adotar dentro do contexto amazônico. Segundo ele, “há uma profusão cada vez mais rápida de conceitos diferentes, cujo efeito de grande guarda-chuva pode matar todo o potencial da bioeconomia e do seu desenvolvimento, especialmente na região amazônica”. Moutinho participou do I Workshop de Bioeconomia, promovido pela FEAUSP em conjunto com o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), com o objetivo de discutir formas sustentáveis para a geração de emprego, renda e bem-estar na Amazônia. O evento foi coordenado pelo professor Jacques Marcovitch (FEAUSP).

    O pesquisador sênior do IPAM afirmou que temos de “fugir da maquiagem” e fazer algo transformador, caso contrário estaremos colocando o prefixo “bio” na frente de todo tipo de economia desenvolvida na região amazônica. “Já escutei que produção de soja transgênica é uma expressão da bioeconomia, assim como uma atividade produtiva livre de fósseis, uma produção sustentável de madeira, ou mesmo o aumento de produtos florestais amazônicos. E temos outras coisas bem estranhas: a produção de óleo em terra indígena é bioeconomia porque traz royalties para os índios continuarem a ter o modo de vida preservado e seus direitos preservados”.

    Paulo Moutinho citou como principal exemplo do uso inadequado do termo aquele que é considerado o ícone da bioeconomia da Amazônia: o açaí. Ele lembrou que houve uma supervalorização da produção do fruto nos últimos anos, superando até a rentabilidade da carne e da soja. Mas destacou que é necessário definir qual tipo de produção de açaí queremos qualificar como bioeconomia.

    O cofundador do IPAM alertou que existe hoje uma série de métodos de produção de açaí, cuja demanda crescente estaria destruindo, em grande parte, o modo de produção tradicional dos ribeirinhos, resultando no que ele chamou de “açaização da paisagem amazônica”. Moutinho citou como principais métodos de produção a “produtivista” e a “conservacionista”. “A produtivista aumenta realmente a produção de açaí em duas ou três vezes, mas há um custo de redução de 50% da riqueza florística onde esse açaizal está implementado”, analisou o pesquisador.

    Paulo Moutinho acredita que “não basta ter um produto ou uma cadeia de valor estruturada, produzindo algo que sai da floresta ou da região amazônica, para chamá-los de bioeconomia. Falar em açaí como sinônimo de bioeconomia é algo que a gente precisa se aprofundar mais”. Disse que não estava trazendo a solução para o problema, mas levantando pontos importantes para conceituar a bioeconomia amazônica e identificar as premissas fundamentais para o desenvolvimento sustentável da região.

    Workshop: prioridades para o estudo da bioeconomia

    A abertura do Workshop de Bioeconomia teve a participação do diretor da FEAUSP Fábio Frezatti, do diretor científico da FAPESP Luiz Eugênio Mello, além de Carlos Roberto Bueno (Fundação Amazônia Sustentável), Paulo Moutinho (IPAM) e Eduardo Coelho Cerqueira (UFPA). Os especialistas apresentaram as prioridades para o estudo da bioeconomia na Amazônia.

    O pesquisador do IPAM, Paulo Moutinho, apontou o “desmatamento zero” como a principal prioridade. “Não há mais como avançar qualquer ação de bioeconomia onde se tenha, com muito poucas exceções, o avanço do desmatamento, seja ele ilegal ou legal. Caso contrário, a própria bioeconomia não se viabilizará”. Também defendeu uma distribuição justa de benefícios: “Se não falarmos disso não teremos uma bioeconomia para a Amazônia: benefícios para quem, para quê e em que escala isso deve ser feito”.

    Outros pilares fundamentais apontados por Paulo Moutinho foram o fortalecimento das dinâmicas socioeconômicas e culturais no território, além do respeito e a inclusão dos saberes ancestrais. “É preciso ter humildade e reconhecer os saberes ancestrais, especialmente dentro do processo de produção tradicional”.

    Há mais de 40 anos trabalhando na região amazônica, o biólogo e pesquisador do INPA Adalberto Luís Val disse que é errado falar em diversidade na Amazônia no singular, enquanto existem diversos aspectos a serem considerados, além da questão biológica, para a discussão de ações que envolvem a bioeconomia da região. Segundo ele, a diversidade na Amazônia é bastante complexa e abrange outras áreas essenciais citando entre elas a diversidade ambiental, geológica, química e cultural.

    Adalberto Val afirmou que o debate sobre a bioeconomia da Amazônia deve levar em conta a “sensibilidade ambiental”. No seu entender, quanto maior a biodiversidade, menor é a densidade de ocorrência de organismos nessas áreas. “Quando estamos pensando em cadeias de valor, em inclusão social e geração de renda, a intervenção ambiental precisa ser pensada com todo o cuidado. Exportar material da Amazônia com custos ambientais significa ter impactos em outros segmentos econômicos extremamente importantes. Quando desmatamos para ter uma monocultura no lugar, significa termos menos serviços ambientais”.

    O professor Jacques Marcovitch, da FEAUSP, levantou questões que considera importantes para o debate da bioeconomia da Amazônia. Destacou, entre elas, como centrar o desenvolvimento na dimensão humana e na sustentabilidade ambiental; como promover a capacitação e recapacitação de pessoas para a construção da nova era; como a transição digital torna possível uma economia mais inclusiva e mais resiliente; como a transição digital pode reduzir a informalidade, a própria ilicitude via as novas tecnologias; e como fazer da retomada econômica o espaço de oportunidade tanto na dimensão tecnológica quanto na dimensão da sustentabilidade, sempre colocando a dimensão humana no centro do processo.

    Segundo ele, a região amazônica coloca imensos desafios nesse momento para os pesquisadores, para o Brasil e para a humanidade. Marcovitch disse que a crise sanitária aumentou as desigualdades na região, houve deterioração das condições e trabalho e renda, e vivenciamos hoje “profundas mudanças na nova era”, onde despontamos como “construtores” e não como “objetos”.

    O professor Jacques Marcovitch enalteceu, ainda, o trabalho da FEAUSP e da FAPESP como instituições que estão sendo desafiadas a pensar novos caminhos para a Amazônia. Marcovitch é o pesquisador responsável pelo projeto Bioeconomia – Estudos das cadeias de valor no Estado do Amazonas, pela FEAUSP/FAPESP. Informações sobre o projeto estão no site https://bioeconomia.fea.usp.br/Data do Conteúdo: Terça-feira, 3 Agosto, 2021

  • A cadeia produtiva do açaí em tempos recentes

    Nesse artigo, os autores atualizam a situação da cadeia produtiva do açaí, que é um fruto amazônico amplamente produzido e apreciado na alimentação das populações regionais e, a partir dos anos 2000, vem assumindo uma liderança nas preferências dos consumidores tanto local como inter-regional e mundial, daí sua importância econômica e nutricional nos últimos 20 anos.

    Logo, ressalte-se a existência de três espécies de palmeiras que produzem o “vinho de açaí”, a saber: a Euterpe oleracea com dominância nos estados do Pará e Amapá, responsável pela maior parte da produção e com capacidade de produzir rebrotamentos; a Euterpe precatória, com dominância no Amazonas, conhecida como “açaí do mato” e sem capacidade de perfilhamento e, a Euterpe edulis, com habitat na Mata Atlântica, não perfilha, sofreu forte processo de destruição para a retirada de palmito.

    Nesse aspecto, a cadeia do açaí envolve extrativistas, produtores, intermediários, indústrias de beneficiamento e batedores artesanais, sendo de importância crucial para a formação de renda de famílias de pequenos produtores na ponta da cadeia produtiva. Assim, o objetivo desse capítulo foi o de caracterizar e analisar as mudanças na cadeia produtiva do açaí em tempos recentes.

    Sobre os autores: Maria Lúcia Bahia Lopes da Universidade da Amazônia (UNAMA), Caio Cezar Ferreira de Souza da Universidade da Amazônia (UNAMA), Gisalda Carvalho Filgueiras da Universidade Federal do Pará (UFPA) e Alfredo Kingo Oyama Homma da Embrapa Amazônia Oriental.

    Este texto integra a coletânea dedicada aos estudos de cadeias produtivas agroindustriais. A coletânea é organizada por Gabriel da Silva Medina (UNB) e José Elenilson Cruz (IFB/Gama) com o título de “Estudos em Agronegócio: participação brasileira nas cadeias produtivas”, Editora Kelps, 2021. Download.

  • Sistema agroindustrial do cacau no Brasil: o nexo entre competitividade e sustentabilidade

    De autoria dos pesquisadores Lucas Xavier, Jacques Marcovitch e João Pedro de Castro Nunes Pereira, esse capítulo da publicação coordenada pelos pesquisadores Gabriel da Silva Medina e José Elenilson Cruz, contextualiza o mercado global de cacau como parte do sistema agroindustrial brasileiro.

    Ao descrever os agentes econômicos e os ambientes institucionais do sistema do cacau (SAGCACAU) no Brasil, oferece uma visão da coordenação desse sistema a fim construir uma estrutura capaz de subsidiar a análise desse sistema sob o enfoque deste novo paradigma competitivo com base nos ODS de promoção da agricultura sustentável (ODS 2) e geração de empregos e renda decentes (ODS 8).

    Com esses propósitos, este capítulo ambiciona dialogar e contribuir para as ações de diferentes partes interessadas na efetivação das condições de desenvolvimento sustentável a partir da competitividade de sistemas agroindustriais baseados na sociobiodiversidade, incluindo tomadores de decisão nos governos e empresas, organizações não governamentais e comunidades locais e tradicionais.

    Sobre os autores: Lucas Xavier Trindade (PPGA/FEA/USP), Jacques Marcovitch (PPGA/FEA/USP) e João Pedro de Castro Nunes Pereira (DCET/PRONIT/UESC).

    Este texto integra a coletânea dedicada aos estudos de cadeias produtivas agroindustriais. A coletânea é organizada por Gabriel da Silva Medina (UNB) e José Elenilson Cruz (IFB/Gama) com o título de “Estudos em Agronegócio: participação brasileira nas cadeias produtivas”, Editora Kelps, 2021. Download.