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Método e indicadores para a bioeconomia inclusiva na Amazônia 

Artigo publicado no Journal Sustainability defende que a bioeconomia deve incentivar atividades econômicas que preservem a biodiversidade e fortaleçam as comunidades locais, promovendo seu bem-estar e diversidade cultural. Seus autores, pesquisadores associados ao Projeto Bioeconomia, propõem um método e indicadores  de avaliação.

Para uma validação inicial da abordagem, o método  foi aplicado à cadeia de valor do pirarucu (Arapaima gigas) na Amazônia brasileira. O estudo mostra que as pescarias gerenciadas são viáveis e trazem benefícios socioeconômicos, mas ainda existem desafios em relação à renda complementar, atratividade para as comunidades locais e falhas institucionais.

Como citar

Saes, M. S. M., Saes, B. M., Feitosa, E. R. M., Poschen, P., Val, A. L., & Marcovitch, J. (2023). When Do Supply Chains Strengthen Biological and Cultural Diversity? Methods and Indicators for the Socio-Biodiversity Bioeconomy. Sustainability, 15(10), 8053. https://www.mdpi.com/2071-1050/15/10/8053


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Áreas protegidas e o bem-estar das comunidades Amazônicas

Na sua apresentação no Frontiers Forum Live 2023, o Professor Carlos Peres, da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, explicou por meio de evidências, os resultados de sua pesquisa, selecionada como representante brasileira do premio internacional Frontiers Planet.



Por meio da sua pesquisa, o professor Carlos Peres e a sua equipe demonstraram que os programas de conservação de base comunitária na Amazônia não só beneficiam os ecossistemas naturais como também melhoram os meios de subsistência das pessoas que vivem nas áreas protegidas. Esta capacitação das comunidades locais, em que todos ganham, pode ser alargada a toda a planície amazônica e realça o valor da proteção e reforça os argumentos em favor da ocupação humana responsável reservas florestais, como fator decisivo para a conservação.

Saiba mais sobre o Prêmio Frontiers Planet: https://www.frontiersplanetprize.org/

O Frontiers Forum Live apresenta soluções científicas para uma vida saudável num planeta saudável. O evento realiza-se anualmente em Montreux, na Suíça, e há sessões virtuais ao longo do ano.

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Equilíbrio delicado para a Amazônia Legal Brasileira

Em estudo publicado pelo Banco Mundial em 11 de maio de 2023, “Equilíbrio delicado para a Amazônia Legal Brasileira“, sob forma de um memorando, apresenta respostas ao desafio de geração de renda para as populações da região, conciliada à proteção das florestas naturais e os modos de vida tradicionais, por meio de quatro ações estratégicas:

  • Aumentar o bem-estar dos cidadãos, promovendo a produtividade por meio da transformação estrutural nas áreas rurais e urbanas;
  • Proteger a floresta por meio do fortalecimento da governança fundiária e florestal, incluindo a aplicação das leis existentes (comando e controle);
  • Promover meios de subsistência rurais sustentáveis, valorizando o capital natural associado à floresta em pé e protegendo os modos de vida tradicionais;
  • Estruturar o financiamento da conservação vinculado à redução mensurável do desmatamento e recorrer a recursos públicos e privados ou soluções baseadas no mercado.

O estudo completo está disponível no pode ser encontrado no website do Banco Mundial.

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Amazônia central: oito mil anos de história

O autor contraria o senso comum e revela a riqueza do processo de ocupação humana na região. A obra traz desdobramentos da discussão para outros contextos da arqueologia das terras baixas da América do Sul, demonstrando que a história do Brasil anterior à chegada dos europeus é riquíssima e relevante para o entendimento do lugar que o Brasil ocupa.

O Texto a seguir é da jornalista Leila Kiyomura, publicado no Jornal da USP

Apesar de o mundo olhar com apreensão e interesse para o Brasil graças à Amazônia, a história milenar e a importância da floresta para a preservação da vida do planeta ainda são desconhecidas. Em plena crise ambiental e social – em que os povos indígenas, na tentativa de salvar a floresta, estão sendo ameaçados e em que a comunidade internacional protesta contra o recente assassinato do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira –, a história da Amazônia é contada em detalhes no livro Sob os Tempos do Equinócio – Oito Mil Anos de História na Amazônia Central, do arqueólogo e professor da USP Eduardo Góes Neves.

Publicada pela Editora da USP (Edusp) e Ubu Editora, a obra é resultado de mais de três décadas de pesquisas arqueológicas na região amazônica feitas por Neves e sua equipe do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP. “A história deste lugar chamado Brasil começa em 22 de abril de 1500. No entanto, numa estimativa conservadora, os ancestrais dos povos indígenas vivem aqui há mais de 12 mil anos”, escreve Neves na introdução. “Este livro busca contar uma parte dessa história, apresentando uma síntese do que se sabe dos 8 mil anos de ocupação indígena da Amazônia Central. Buscarei ainda desdobrar a discussão para outros contextos da arqueologia das terras baixas da América do Sul.”

Com uma linguagem clara e objetiva, o professor leva os leitores e leitoras para os lugares que pesquisou. O texto flui na expectativa de ser de interesse não só para os especialistas e estudiosos da arqueologia, mas para todos que acompanham a história dos povos indígenas e a luta pela preservação da Amazônia.

“De fato, a situação atual na Amazônia é trágica. Durante todo o período em que pesquisei e trabalhei na região, nunca vi um estado de coisas como este”, relata Neves, em entrevista ao Jornal da USP. “Espero que o livro mostre para o público um pouco da riqueza e da beleza da história antiga dos povos indígenas que vivem há milhares de anos na Amazônia e em todo o Brasil. Uso o termo ‘história antiga’ porque considero ‘pré-história’ um conceito anacrônico para nós, na América Latina. Vivemos em uma época na qual, infelizmente, o negacionismo científico tem prosperado, inclusive com apoio de autoridades. Minha esperança é que o livro funcione como um antídoto.”

“Os povos indígenas que ocuparam a Amazônia modificaram a natureza, criando áreas de solos férteis e modificando a concentração de espécies de árvores”

“A arqueologia nos mostra que os povos indígenas que ocuparam a Amazônia e outros lugares do Brasil modificaram profundamente a natureza, criando, por exemplo, áreas de solos férteis, conhecidos como terras pretas, ou modificando a concentração de espécies de árvores. A Amazônia é berço de uma imensa agrobiodiversidade, resultante das práticas de cultivo dos povos indígenas”, afirma  Neves. “No presente, são os povos indígenas que têm resistido, pagando às vezes com suas vidas os ataques que a floresta tem sofrido. Basta olhar um mapa do avanço do desmatamento na Amazônia para verificar que muitas das áreas de floresta que ainda permanecem são terras indígenas.”

O professor ressalta: “As florestas brasileiras não existiriam como são se não fosse pela contribuição intelectual sofisticada de seus habitantes milenares. Por outro lado, sabemos como o desmatamento da Amazônia tem causado impacto profundo no ciclo de chuvas do Sudeste do País, comprometendo inclusive o futuro do próprio agronegócio. Vivemos em uma profunda crise climática e ambiental. Nosso papel na Universidade é continuar mostrando os sinais dessa crise, cada vez mais inequívocos, e também apontar caminhos para superá-la.”

O arqueólogo e professor da USP Eduardo Góes Neves – Foto: Luiz Pereira Pinto/Ubu Editora

O livro reproduz a tese de livre-docência defendida por Neves na USP em 2013. Apresenta objetivos distintos, porém relacionados. O primeiro deles é trazer, com detalhes, a reconstituição histórica da ocupação humana da Amazônia Central. Uma pesquisa que investiga acontecimentos de 10 mil anos atrás, até os primeiros momentos da colonização europeia, no século 16. O segundo objetivo é utilizar os dados e hipóteses da Amazônia Central para discutir temas semelhantes presentes em outros contextos da arqueologia das terras baixas da América do Sul. “A premissa, nesse caso, é que o potencial e as limitações da arqueologia da Amazônia Central não são exclusivos dessa área, mas têm  uma relevância que vai além do contexto regional.” O terceiro objetivo é contribuir para o debate teórico e metodológico da arqueologia brasileira.

“A Amazônia é berço de uma imensa agrobiodiversidade, resultante das práticas de cultivo dos povos indígenas”

As 224 páginas do livro propiciam a reflexão, o pensamento crítico e o questionamento sobre o Brasil, a Amazônia, a arqueologia e a história que nos foi contada. Eduardo Góes Neves assinala: “É comum que se pense que a arqueologia estuda o passado, mas essa ideia é incorreta. A arqueologia estuda fenômenos do presente e outros tipos de registros que viajaram pelo tempo, às vezes por milhões de anos, até os dias de hoje. Essa não é apenas uma distinção semântica. Ela define de saída quais são as possibilidades e limitações que a arqueologia oferece para o conhecimento do passado. O passado é um país estrangeiro, um território estranho, ao qual jamais poderemos retornar”.

O leitor e a leitora podem começar a explorar Sob os Tempos do Equinócio: Oito mil Anos de História na Amazônia Central pelas orelhas do livro. O texto é da jornalista gaúcha Eliane Brum, também moradora da floresta, em Altamira, no Pará, um dos municípios com grave índice de desmatamento, segundo levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).Brum escreve com a lucidez e coragem de sempre: “O Brasil é a periferia da Amazônia – isso os menos estúpidos entre os humanos já perceberam. Não fosse por abarcar em seu território 60% da maior floresta tropical do mundo, insubstituível no enfrentamento do colapso climático, o Brasil atual seria apenas um país marcado por brutal desigualdade, racista até a medula e, com frequência exasperante, às voltas com a ameaça de um golpe capitaneada por algumas das mentes mais medíocres produzidas nos trópicos”.

Sobre a publicação: Sob os Tempos do Equinócio: Oito mil Anos de História na Amazônia Central. Eduardo Góes Neves. Editora Edusp / Ubu Editora Ltda.
ISBN 13: 9786557850909
1ª edição, impressão de 2022
224 páginas
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Como enfrentar os incêndios florestais na Amazônia?

Em artigo recentemente publicado no International Journal of Disaster Risk Reduction, Pismel, et al., discutem a governança de incêndios florestais na fronteira tri-nacional do sudoeste da Amazônia.

Os incêndios florestais são um perigo crescente nessa fronteira, conhecida como região MAP, composta por Madre de Dios (Peru), Acre (Brasil), e Pando (Bolívia). Segundo os autores, a compreensão da governança dos incêndios florestais é fundamental para as estratégias de redução do risco de desastres. Assim, o artigo analisa as percepções sobre vulnerabilidades e capacidades regionais a partir de quatro eixos: i) conhecimento do risco; ii) monitoramento; iii) educação e comunicação; e iv) prevenção e resposta a desastres. 

A conclusão aponta para uma área com múltiplas vulnerabilidades, tais como organizações fracas, diálogo reduzido entre governos e sociedade, avanço da fronteira agrícola e aumento dos extremos climáticos. 

Em um esforço para reverter esse quadro, os pesquisadores vêm contribuindo, no âmbito do projeto MAP-FIRE, para a construção de uma série de ferramentas para ampliar as capacidades organizacionais e envolver as comunidades locais na prevenção de desastres. Segundo artigo recente publicado pela Agência FAPESP, entre as ferramentas desenvolvidas pelo grupo encontram-se uma plataforma de monitoramento dos riscos de desastre e um livro didático, voltado para a formação de professores.

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#Diálogo Bioeconomia

Evento Híbrido

Dia 11 de abril de 2023,
das 16h30 às 17h30

FEA/USP. FEA-1, Sala Ruy Leme

Convidado

Jorge Sellare, Ph.D.
Research Group Leader Transformation and Sustainability Governance in South American Bioeconomies Center for development Research (ZEF)
University of Bonn

Coordenação Profs. Jacques Marcovitch e M Sylvia M. Saes 

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3º Boletim do Observatório de Bioeconomia (OBio)

O terceiro boletim produzido no âmbito do Observatório de Bioeconomia (OBio) foca-se no tema da Bioeconomia Amazônica. O relatório, elaborado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), desenvolve tanto um mapeamento das iniciativas existentes, como um panorama da produção científica sobre a bioeconomia Amazônica.

A partir da revisão científica, o documento define e analisa 12 clusters temáticos. Alguns deles, tratam de desafios para a região como o desmatamento, a contaminação do ecossistema por mercúrio e a disseminação da malária. Outros, levantam potenciais, tais como dos produtos Amazônicos, biodiversidade, diversidade genética e plantas medicinais. Entre as matérias-primas trabalhadas, o relatório destaca as seis mais mencionadas, sendo: açaí, castanha do Pará, cacau, piper, guaraná e buriti.

Finalmente, o boletim aponta três pontos em torno dos quais giram as discussões sobre os potenciais da bioeconomia: (i) equilíbrio com a natureza; (ii) compreensão do valor real da bioeconomia; e (iii) importância dos aspectos sociais, incluindo a valorização dos conhecimentos tradicionais.

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Governança Ambiental: Bioeconomia na Amazônia

Programa da Disciplina EAD 5978

A governança ambiental é o meio pelo qual a sociedade determina prioridades e se mobiliza  para atingir metas relacionadas à gestão responsável dos recursos naturais. A disciplina EAD 5978/2024 tem por objetivos: 

  • induzir uma análise crítica da governança ambiental em todos os níveis de decisão e  ação;  
  • construir conhecimento, metodologias e habilidades relacionadas à concepção,  operação e avaliação da governança ambiental;  
  • identificar temas de estudos e pesquisa para aprimorar a governança ambiental no  Brasil.  

Esta disciplina, dedicada ao estudo da governança ambiental, tem por foco a Amazônia. Por  isso, é estudada a evolução do conhecimento existente sobre a bioeconomia inclusiva e suas  perspectivas. Abordagem que inclui as ferramentas de análise de cadeias de valor na  bioeconomia com foco na geração de emprego e renda, de bem-estar das comunidades  produtoras e de conservação da natureza  

Programa da disciplina

Dia 1

  • Apresentação da disciplina e dos participantes. Jacques Marcovitch, Maria Sylvia M. Saes, Vanessa Pinsky
  • Bioeconomia: conceitos básicos e sua aplicação. Maria Silvia M. Saes, FEA/USP
  • Meio Ambiente e Mudança do Clima: Prioridades, ações e métricas.  João Paulo Capobianco, Secretário Executivo do MMA
  • Desafios da sustentabilidade e do desenvolvimento na Amazônia. Emmanuel Zagury Tourinho, Reitor da UFPa 
  • Tendências Mundiais e desafios ambientais – Da Rio 92 ao Acordo de  Paris 2015 para os ODS 2030.  Jacques Marcovitch, FEA e IRI/USP

Dia 2

  • Programa AMAZ: resultados, impactos e desafios.  Mariano Cenamo, Diretor de Novos Negócios – Idesam 
  • Redes de inovação sustentável com múltiplos stakeholders: o  caso “Origens Brasil”. Kavita Miadaira Hamza, EAD/FEA/USP.
  • Pagamento de Serviços Ambientais (PSA) na Amazônia.  Bruno Peregrina Puga, Sociedade Brasileira de Economia Ecológica. 
  • Governança Ambiental na Amazônia: desafios e propostas. Eduardo Taveira, Secretário do Meio Ambiente do Estado do Amazonas. 
  • Fundo Amazônia: desafios, resultados, impactos e perspectivas. Nabil Moura Kadri, Superintendente de Gestão Pública e Socioambiental/ BNDES. 
  • Preparação do Trabalho em grupo

Dia 3

  • As cadeias de valor da bioeconomia na Amazônia I: pirarucu.  Maria Silvia M. Saes, FEA/USP. 
  • As cadeias de valor da bioeconomia na Amazonia II: cacau.  Lucas Xavier Trindade, Universidade Estadual de Santa Cruz, Bahia. 
  • As cadeias de valor da bioeconomia na Amazônia III: açaí.  Thiara Fernandes e Silva e Manoel Potiguar, Instituto Peabiru, Belém. 
  • As cadeias de valor da bioeconomia na Amazonia IV: meliponicultora.  Vera Lucia Imperatriz Fonseca, IB/USP. 
  • Desenvolvimento local baseado em produtos florestais não  madeireiros: o caso de São Francisco do Iratapuru. Tomas Rosenfeld, Universidade de Freiburg, Alemanha. 

Dia 4

  • Governança Ambiental: teorias e prática. Vanessa Pinsky, FEA/USP. 
  • Apresentação dos trabalhos em grupo. 
  • Temas para o artigo de autoria individual ou estudo de caso.  Elaboração de um artigo padrão Qualis A, ou um estudo de caso, para publicação.
  • Encerramento da disciplina e avaliação. 

Professores responsáveis

Informações pelo e-mail: mudarfuturo@usp.br

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Rumos para a economia da floresta


Por Graziella Maria Comini

O artigo tem por objetivo apresentar um retrato de empreendimentos socioambientais na região amazônica mediante a sistematização de uma base de dados.

Site da revista GV Executivo

Os estudos sobre empreendimentos socioambientais concentram-se na Região Sudeste. Faltam pesquisas sobre especificidades regionais particularmente na região amazônica, que apresenta grande potencial para a geração de valor sustentável.

O estudo fez o mapeamento e a análise descritiva de 578 empreendimentos socioambientais atuantes na região amazônica.

O artigo apresenta os primeiros resultados de um mapeamento realizado na região amazônica contribuindo para identificar ações necessárias para a consolidação de negócios socioambientais na Região Norte. Observaram-se concentração de empreendimentos nos estados do Pará e do Amazonas, poucos negócios na fase de tração e escala e prevalência de negócios socioambientais com lógica social, com mecanismos institucionais de participação coletiva.

O estudo chama a atenção para a importância de empreendimentos capazes de enfrentar o cenário de desmatamento e pobreza na região amazônica, com manejo sustentável dos recursos naturais e inclusão de comunidades tradicionais e valorização da cultura local. Também traz recomendações para diversos atores se unirem a fim de fortalecer esses empreendimentos.

Palavras-chave: Amazônia, economia da floresta, negócios socioambientais, negócios da floresta.Resumo

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38% da Amazônia sofre degradação motivada por ação humana

Luciana Constantino | Agência FAPESP – Além do aumento das taxas de desmatamento registrado na Amazônia desde 2018, a maior e mais biodiversa floresta tropical do mundo enfrenta outros processos de degradação provocados por humanos que ameaçam seu futuro.

Estudo publicado na edição de sexta-feira (27/01) da Science mostra que aproximadamente 38% da atual área da Amazônia sofre com algum tipo de degradação causada por quatro fatores. São eles: fogo, extração seletiva de madeira (em sua maioria ilegal), efeitos de borda (que são mudanças em regiões de floresta ao lado de zonas desmatadas) e secas extremas, cada vez mais frequentes em decorrência das mudanças climáticas.

Juntamente com outra revisão analítica, o artigo The drivers and impacts of Amazon forest degradation compõe o tema de destaque da capa desta edição da revista científica com o título Amazônia perdida – Degradação e destruição florestal (em tradução livre).

Segundo a pesquisa, as emissões de carbono resultantes dessa perda gradual de vegetação – entre 50 milhões de toneladas e 200 milhões de toneladas ao ano (0,05 a 0,2 petagrama de carbono, PgC) – são equivalentes ou até mesmo maiores do que as registradas por desmatamento – entre 60 milhões de toneladas e 210 milhões de toneladas/ano (0,06 a 0,21 PgC/ano).

Os cientistas definem como degradação as mudanças transitórias ou de longo prazo nas condições da floresta causadas por humanos, gerando perda gradual da vegetação. Essas áreas não têm as mesmas estruturas, resiliência e funções de uma floresta intacta. Já o desmatamento envolve alteração na cobertura do solo, com a troca da vegetação nativa por pastagem, por exemplo.

O trabalho também indica que a degradação florestal pode reduzir a evapotranspiração em até 34%, causando danos à biodiversidade e provocando impactos socioeconômicos para as comunidades locais, principalmente as tradicionais, como indígenas e ribeirinhos. A evapotranspiração é o processo que devolve água à atmosfera por meio da evaporação do líquido que está no solo mais a transpiração das plantas.

Temos uma vasta literatura sobre o funcionamento, causas e impactos do desmatamento, mas não relacionada à degradação, por isso nosso foco foi entender esse processo. E uma das conclusões do estudo foi que a degradação é, ao menos parcialmente, um processo independente do desmatamento”, explica à Agência FAPESP o ecólogo David Montenegro Lapola, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Um dos líderes do estudo ao lado de Patrícia Pinho, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Lapola recebe apoio da FAPESP por meio de dois projetos (15/02537-7 e 20/08940-6). Ambos assinam o artigo com outros 33 cientistas de instituições nacionais e internacionais, entre elas o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e universidades americanas e europeias.

Os pesquisadores trabalharam com uma revisão analítica de dados científicos baseados em imagens de satélite e de informações colhidas em campo, já publicados anteriormente sobre mudanças na região amazônica, entre 2001 e 2018. O trabalho foi desenvolvido por meio do projeto Analysis, Integration and Modelling of the Earth System (Aimes), ligado à iniciativa internacional Future Earth, que reúne cientistas e pesquisadores voltados ao estudo da sustentabilidade.

De acordo com os resultados, 5,5% da Amazônia (que corresponde a 0,36 km2 x 106 km2) está sob alguma forma de degradação se analisados os dados existentes de extensão do fogo, efeitos de borda e extração de madeira entre 2001 e 2018. Adicionando os dados de secas extremas, a estimativa da área total degradada chega aos 38% (2,5 x 106 km2). Diferentes regiões da floresta podem ser atingidas por um ou mais fatores.

Pelos dados do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), do Inpe, a Amazônia perdeu 11.568 km² em área desmatada entre 1º de agosto de 2021 e 31 de julho do ano passado. É o segundo maior valor desde 2008 e o equivalente ao território da Jamaica. No período anterior – agosto de 2020 a julho de 2021 –, o desmate já havia atingido 13.038 km². Pará, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia concentraram quase 90% do total.

Futuro

O grupo de cientistas do qual Lapola faz parte trabalhou com projeções para 2050 e apontou que os quatro fatores de degradação, aliados às mudanças climáticas, continuarão entre as principais causas de emissão de carbono, independentemente do crescimento ou cessão do desmatamento da floresta.

Por isso, sugerem que os esforços para conter o desmatamento devem ser aliados a políticas de combate à degradação. Propõem, por exemplo, a criação de um sistema de monitoramento integrado, com a ajuda de diferentes tipos de tecnologias e de sensores para coletar dados, além de prevenção e combate ao corte ilegal de madeira e do controle do uso do fogo.

Outro ponto destacado pelo grupo é o refinamento da estrutura de projetos de REDD+ – incentivo desenvolvido no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) para recompensar financeiramente países em desenvolvimento por seus resultados de redução de emissões de gases de efeito estufa provenientes do desmatamento e da degradação florestal.

“Coibir o uso do fogo, a exploração ilegal de madeira e mesmo o efeito de borda que é diretamente relacionado ao desmatamento são processos que o Brasil e os outros países amazônicos podem e devem tratar. É nossa responsabilidade. Entretanto, ao falar da degradação causada por secas extremas ligadas às mudanças climáticas globais, isso é uma responsabilidade para o mundo todo, em que todos os países têm de atuar para reduzir suas emissões. Do contrário, a floresta sofrerá degradação do mesmo jeito”, completa Lapola.

O artigo é assinado ainda pelos pesquisadores Liana Anderson, do Cemaden, Luiz Eduardo Oliveira e Cruz de Aragão, chefe da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática (DIOTG), do Inpe, e Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que recebem apoio da FAPESP (projetos 20/08916-8, 16/02018-2, 20/16457-3 e 20/15230-5).

Destaque

Liderada por James Albert, do Departamento de Biologia da University of Louisiana at Lafayette, a outra revisão analítica em destaque na capa da Science tem a participação de brasileiros, como o pesquisador Carlos Nobre e a botânica Lúcia Garcez Lohmann, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP).

O grupo revisou os impulsionadores da mudança na Amazônia e mostrou que as alterações provocadas pelos humanos estão ocorrendo muito mais rapidamente do que as transformações ambientais naturais do passado. Lohmann também recebe apoio da FAPESP (12/50260-6 e 18/23899-2).

O artigo The drivers and impacts of Amazon forest degradation pode ser lido em: www.science.org/doi/10.1126/science.abp8622.