Artigo publicado no Journal Sustainability defende que a bioeconomia deve incentivar atividades econômicas que preservem a biodiversidade e fortaleçam as comunidades locais, promovendo seu bem-estar e diversidade cultural. Seus autores, pesquisadores associados ao Projeto Bioeconomia, propõem um método e indicadores de avaliação.
Para uma validação inicial da abordagem, o método foi aplicado à cadeia de valor do pirarucu (Arapaima gigas) na Amazônia brasileira. O estudo mostra que as pescarias gerenciadas são viáveis e trazem benefícios socioeconômicos, mas ainda existem desafios em relação à renda complementar, atratividade para as comunidades locais e falhas institucionais.
Saes, M. S. M., Saes, B. M., Feitosa, E. R. M., Poschen, P., Val, A. L., & Marcovitch, J. (2023). When Do Supply Chains Strengthen Biological and Cultural Diversity? Methods and Indicators for the Socio-Biodiversity Bioeconomy. Sustainability, 15(10), 8053. https://www.mdpi.com/2071-1050/15/10/8053
Neste vídeo, o pesquisador Lucas Xavier apresenta um relato de experiência imersiva, no âmbito do Projeto Bioeconomia, em duas regiões do Amazonas, Rio Madeira e Rio Juruá.
Nesses locais as comunidades ribeirinhas são agroextrativistas de cacau. A pesquisa de campo, realizada entre os dias 03 e 14 de outubro de 2022, teve como propósito a coleta de dados na forma de entrevistas. O relato mostra a existência de abordagens diferenciadas de inserção na cadeia do cacau, com desafios singulares intra e extra cadeia de valor.
A visita contou com o apoio das: Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Amazonas (SEMA), Associação dos Produtores Agroextrativistas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Madeira (APRAMAD), SOS Amazônia, Comunidade do Novo Horizonte e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
André Julião | Agência FAPESP – Um peixe com grande produção de filhotes, altas taxas de crescimento, dieta majoritariamente vegetariana, resistência a baixas quantidades de oxigênio na água e com demanda no mercado é o sonho de qualquer piscicultor.
Segunda espécie em produção no Brasil, atrás apenas da tilápia, peixe amazônico tem carne apreciada e alto rendimento. Mas para conquistar o mundo é preciso investimento em pesquisas voltadas ao melhoramento da espécie, afirmam pesquisadores da Universidade de Mogi das Cruzes (foto: Wikimedia Commons)
Sem que houvesse grandes investimentos em inovação e melhoramento genético, o tambaqui (Colossoma macropomum) reuniu essas características e alcançou uma produção anual de 100 mil toneladas no Brasil, atrás apenas da tilápia, com cerca de 500 mil toneladas.
A diferença é que a espécie africana foi alvo de um grande programa de melhoramento a partir dos anos 1980, na Ásia. A variedade melhorada – conhecida como GIFT (sigla em inglês para tilápia de criação geneticamente melhorada) – é produzida hoje em 14 países, incluindo o Brasil, que tem ainda uma cadeia de empresas dedicadas à pesquisa e desenvolvimento de produtos voltados a esse mercado.
Por conta de suas características naturais, o tambaqui, peixe nativo dos rios amazônicos, é apontado por pesquisadores como dono de um potencial no mercado não apenas nacional, como global, podendo se tornar uma verdadeira commodity brasileira. No entanto, faltam investimentos em inovação, apontam pesquisadores em artigo publicado na revista Reviews in Aquaculture.
“Um peixe amazônico, com dieta 75% vegetariana e manejo muito fácil, tem um enorme potencial como produto sustentável, num momento em que a aquicultura está sob ataque por conta dos impactos no meio ambiente causados, por exemplo, pela cultura do salmão, primeiro peixe a se tornar uma commodity internacional”, conta Alexandre Hilsdorf, professor e pesquisador do Núcleo Integrado de Biotecnologia da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), primeiro autor do estudo.
O trabalho reúne o conhecimento mais recente sobre diversos aspectos da cultura do tambaqui, desde a história da produção no Brasil – as primeiras tentativas de domesticação datam ainda dos anos 1930 –, passando pelos sistemas de produção, genética, nutrição, doenças, até os métodos de processamento.
Melhoramento genético
Parte da produção científica sobre o peixe nos últimos anos foi apoiada pela FAPESP, que financiou pesquisas de alguns dos autores do trabalho, como o próprio Hilsdorf, coordenador do projeto “Estudo integrado de genética quantitativa e genômica para caraterísticas de interesse zootécnico em tambaquis (Colossoma macropomum)”.
O pesquisador foi um dos responsáveis pelo sequenciamento e pela análise do genoma da espécie, publicado em setembro de 2021. Hilsdorf coordenou ainda estudo que caracterizou tambaquis sem espinhas intermusculares – aquelas em forma de “Y” que ocorrem dentro da carne de algumas espécies. Outro trabalho identificou genes possivelmente associados à ausência dessas espinhas no tambaqui (leia mais em: revistapesquisa.fapesp.br/o-genoma-do-tambaqui/).
Em trabalho anterior, seu grupo estimou parâmetros genéticos de várias características do tambaqui, como os que determinam a área do lombo, um dos cortes mais apreciados pelos consumidores. Reunidos, os trabalhos estabelecem parâmetros científicos para o desenvolvimento de variedades genéticas melhoradas para o mercado.
“O lombo suíno, por exemplo, foi alvo de melhoramento genético. As raças de porco que temos hoje no Brasil foram selecionadas de forma a terem a capa de gordura reduzida e a área de lombo aumentada. O melhoramento pode fazer com que os cortes de tambaqui chamados de lombo, banda e costela resultem em produtos ainda melhores que os atuais”, explica o pesquisador.
Manaus é o principal mercado consumidor de tambaqui. Enquanto nos anos 1970 a cidade dependia quase totalmente da pesca para suprir a demanda pelo peixe, hoje tem nos piscicultores de Estados vizinhos – Acre, Rondônia e Roraima – seus principais fornecedores.
Nos restaurantes manauaras, o peixe, que retirado da natureza chega facilmente a dez quilos, foi substituído pelos juvenis criados em cativeiro, com dois a três quilos. “Os donos de restaurante preferem este último, pois é um produto mais padronizado”, diz Hilsdorf.
Paradoxalmente, as características que fazem do animal tão vantajoso para criação em cativeiro acabam afastando investimentos em melhoramento. As matrizes, peixes que servem como reprodutores, ainda hoje são adquiridas de outros piscicultores ou mesmo capturadas na natureza.
A grande produção de alevinos (filhotes) e o crescimento rápido em relação a outras espécies (pode chegar a dois quilos em um ano), além da resistência a ambientes com pouco oxigênio, fazem com que os produtores não invistam em melhoramento.
“Não investir porque a espécie já tem um bom desempenho é um raciocínio errôneo. Se o peixe chega a dois quilos em um ano, com melhoramento poderia chegar a esse peso em nove meses, por exemplo. O produtor que investir nisso vai começar a vender alevinos ou matrizes para os vizinhos e estará à frente no mercado. É um investimento de longo prazo, de risco, mas a história mostra que há retorno”, opina o pesquisador.
O peixe vive em uma faixa de temperatura entre 25o C e 34o C, o que mantém a cultura praticamente restrita ao norte do Brasil. O desenvolvimento de variedades resistentes a temperaturas mais baixas, por exemplo, poderia viabilizar a cultura no resto do país.
Em vez disso, a solução encontrada foi o desenvolvimento de híbridos com espécies que vivem mais ao sul do Equador, como o pacu (Piaractus mesopotamicus), cujo cruzamento resulta no tambacu, e a pirapitinga (Piaractus brachypomus), que originou a tambatinga.
“Temos recursos genéticos suficientes para desenvolver variedades com diferentes perfis de tolerância a frio, a baixo oxigênio na água, a doenças, sem espinhas, com maior produção de filhotes e de carne, entre outros. Não necessitamos da produção de híbridos, que são um risco para a manutenção da integridade dos recursos genéticos selvagens devido aos escapes de pisciculturas. Os produtores necessitam ir além, com a busca de produtos geneticamente superiores para o estabelecimento de uma piscicultura economicamente e ecologicamente sustentável. É isso que o mercado no mundo todo exige atualmente”, encerra o pesquisador.
O artigo The farming and husbandry of Colossoma macropomum: From Amazonian waters to sustainable production pode ser lido em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/raq.12638.
Fabiano Maisonnave e Eduardo Anizelli do MÉDIO JURUÁ (AM) reportam os acampados à beira do rio Xeruã, afluente do Juruá. Os denis se dividem e se multiplicam em diversas atividades antes de partir em busca do mítico pirarucu. A pesca do maior peixe de escamas de água doce do mundo só é feita uma vez por ano; com manejo adequado, a população animal cresceu 425%.
A falta de uma cadeia produtiva estruturada na piscicultura resulta em baixos rendimentos e limitada retenção de valor na Amazônia brasileira. Este estudo oferece diretrizes para o elaboração de políticas de desenvolvimento, entre as quais, a promoção de novos produtos e a sua certificação.
O artigo “Understanding the Constraints on Success in Brazilian Amazon Production Chains” aplica a Teoria das Restrições (Theory of Constraints de E. Goldrat,1984 ).
O manejo da castanheira-da-amazônia é uma atividade tradicional, chave para a economia de milhares de famílias extrativistas da Amazônia e para a conservação das florestas. Fernanda Lopes da Fonseca & Al empreendem neste artigo, um estudo de caso que integra as percepções de extrativistas, pesquisadores, gestores e técnicos. Para este estudo, foi adotada uma ferramenta de apoio à definição participativa de indicadores para a avaliação da sustentabilidade do manejo de castanhais nativos e da viabilidade do extrativismo da castanha ao longo do tempo.
O cacau nativo da Amazônia, menos famoso que o cacau baiano, está cada vez mais se popularizando. Em 2020, o estado do Pará, agora o maior produtor do país, comercializou em torno de 140 mil toneladas do produto. Na floresta de várzea, os ribeirinhos aprendem a valorizar essa cultura para gerar renda e proteger a floresta ao mesmo tempo.
Confira o texto completo em matéria de 24 de janeiro de 2021 no portal UOL, de sarah Cozzolino, correspondente da RFI no Brasil
Podemos comprometer a biodiversidade para atender a demanda do mercado? Na Amazônia, a política pública deveria orientar estratégias locais com base em boas práticas de manejo.
Este artigo evidencia os impactos ambientais da monocultura do açai, produto da sociobiodiversidade na Amazônia
Encontro para revitalização da Casa Familiar Rural, Boa Vista do Ramos, AM. Foto Sydnei Fogassa
A Nota Técnica de Bioeconomia nº 2/2021 – SECTI/SEDECTI/AM, trata de políticas públicas para desenvolvimento da meliponicultura no Amazonas. O texto descreve a rede de conhecimento produtivo, os marcos regulatórios para o licenciamento ambiental da atividade, informações técnicas sobre a produção, além da análise do processo de beneficiamento e comercialização, bem como aspectos legais da meliponicultura no estado.