O açaí tem grande relevância na alimentação dos amazonenses, que consomem o equivalente a 10 litros da fruta/ano/pessoa, segundo o IDAM (2019), que também destaca que o fruto é o segundo produto mais importante da agricultura amazonense, depois da mandioca. Além da região Norte, que é a principal consumidora da superfruta, os estados do sul e sudeste do Brasil também são fortes consumidores.
Podemos comprometer a biodiversidade para atender a demanda do mercado? Na Amazônia, a política pública deveria orientar estratégias locais com base em boas práticas de manejo.
Este artigo evidencia os impactos ambientais da monocultura do açai, produto da sociobiodiversidade na Amazônia
Nesse artigo, os autores atualizam a situação da cadeia produtiva do açaí, que é um fruto amazônico amplamente produzido e apreciado na alimentação das populações regionais e, a partir dos anos 2000, vem assumindo uma liderança nas preferências dos consumidores tanto local como inter-regional e mundial, daí sua importância econômica e nutricional nos últimos 20 anos.
Logo, ressalte-se a existência de três espécies de palmeiras que produzem o “vinho de açaí”, a saber: a Euterpe oleracea com dominância nos estados do Pará e Amapá, responsável pela maior parte da produção e com capacidade de produzir rebrotamentos; a Euterpe precatória, com dominância no Amazonas, conhecida como “açaí do mato” e sem capacidade de perfilhamento e, a Euterpe edulis, com habitat na Mata Atlântica, não perfilha, sofreu forte processo de destruição para a retirada de palmito.
Nesse aspecto, a cadeia do açaí envolve extrativistas, produtores, intermediários, indústrias de beneficiamento e batedores artesanais, sendo de importância crucial para a formação de renda de famílias de pequenos produtores na ponta da cadeia produtiva. Assim, o objetivo desse capítulo foi o de caracterizar e analisar as mudanças na cadeia produtiva do açaí em tempos recentes.
Sobre os autores: Maria Lúcia Bahia Lopes da Universidade da Amazônia (UNAMA), Caio Cezar Ferreira de Souza da Universidade da Amazônia (UNAMA), Gisalda Carvalho Filgueiras da Universidade Federal do Pará (UFPA) e Alfredo Kingo Oyama Homma da Embrapa Amazônia Oriental.
Este texto integra a coletânea dedicada aos estudos de cadeias produtivas agroindustriais. A coletânea é organizada por Gabriel da Silva Medina (UNB) e José Elenilson Cruz (IFB/Gama) com o título de “Estudos em Agronegócio: participação brasileira nas cadeias produtivas”, Editora Kelps, 2021. Download.
Por Walace de Jesus | Jornal da USP – Uma agroindústria flutuante foi inaugurada na Amazônia no último mês de maio. A Balsa-Açaí, como ficou conhecida, é uma indústria idealizada para processar frutas em comunidades mais distantes de Manaus, mas especialmente o açaí. O empreendimento é movido a luz solar e percorrerá os rios Amazonas, Solimões, Madeira, Purus, Juruá e Japurá. Com capacidade de armazenamento de 300 toneladas de açaí, o projeto pode transformar 20 toneladas de açaí por dia em 12 toneladas de polpa, além de beneficiar comunidades ribeirinhas com aumento de lucros e otimização do transporte do fruto.
A agroindústria é uma iniciativa do grupo Transportes Bertolini e da Valmont Solutions, que, juntos, investiram mais de R$ 20 milhões para a construção da plataforma flutuante. O primeiro destino da Balsa-Açaí foi Coari, município que fica a 363 quilômetros da capital amazonense. De acordo com o governo do Amazonas, o quilo do açaí no município está com valor médio de R$ 2,15 e a compra diária da indústria flutuante é de 400 sacas.
O amazônida e professor do Departamento de Ciências Florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo, Edson José Vidal da Silva, comenta que a iniciativa representa muitas vantagens para o mercado do açaí, mas que uma preocupação é a capacidade de produção da própria floresta. “A iniciativa é interessante, mas devemos nos preocupar com o manejo da espécie e pensar a produção de forma sustentável”, comenta.
“Quando pensamos em um produto não madeireiro e essa iniciativa não podemos esquecer a sustentabilidade da floresta em todas essas regiões em que a barca irá atuar”, explica. Para Vidal, é importante que a espécie consiga realizar suas taxas vitais para que não seja extinta localmente. “Se o fruto for exaustivamente retirado, impactos serão gerados para a fauna e à própria regeneração da espécie.”
Dentre a análise da nova indústria, o professor ressalta que a retirada da figura do atravessador e o maior aproveitamento do fruto são grandes vantagens para o sucesso da iniciativa. “Também podemos pensar em uma cadeia completa de aproveitamento dessa espécie para a economia dessas cidades”, sugere o professor. Além disso, para as comunidades ribeirinhas que moram distantes de Manaus, o projeto vai gerar otimização no transporte do fruto e maior lucro para os que o comercializam. “Vai reduzir o custo do transporte e também vai retirar a figura do atravessador, que acaba não deixando um recurso melhor para os ribeirinhos”, explica.
A iniciativa só pôde ser concretizada a partir da alteração do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) na Instrução Normativa n° 72/2018 com a Instrução Normativa n° 04/2021, que possibilitou o registro de estabelecimentos de produção de bebidas moveis a partir de critérios estabelecidos pela pasta da agricultura.
Vidal também revela que, além de relevância econômica, o açaí também tem importância nutricional para a população amazonense, que o consome não como uma simples sobremesa, mas muitas vezes como uma refeição completa. “É um produto importante e, ao longo do tempo, começou a entrar nas cidades com a migração do pessoal rural até se tornar esse fruto conhecido no mundo e aumentar o mercado”, explica. Ele também expressou sua preocupação em relação à acessibilidade dessas populações tradicionais ao fruto devido à crescente demanda.
O Instituto Terroá e parceiros, no âmbito do Projeto Mercados Verdes e Consumo Sustentável, cooperação entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ), publicaram dois estudos sobre Padrões de Sustentabilidade, um sobre a cadeia de valor do açaí e outro sobre a cadeia de valor da castanha-do-brasil.
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O objetivo das publicações é apresentar padrões de sustentabilidade adotados atualmente para esses dois produtos da sociobiodiversidade amazônica – com destaque para alguns dos sistemas de certificação mais utilizados – a partir de estudos de caso de associações, cooperativas e empresas certificadas atuantes no setor.
Esse artigo, escrito com colaboração de pesquisadores da UFAM e do INPA, trata de um levantamento sobre usos tradicionais em três diferentes comunidades na reserva Piagaçi-Purus no estado do Amazonas.
O texto refere-se à imensa complexidade das intereações entre ambiente e sociedade e sobre a importância de recuperar esse conhecimento na investigação dos aspectos socioculturais com implicações no desenvlvimento da região.
O Instituto Peabiru produziu uma série de documentários em vídeos curtos, com entrevistas e visitas a projetos relacionados com as cadeias de valor da floresta, sob a perspectiva da agricultura familiar.
O cacau agroflorestal de Tomé-Açu no Pará representa o único produto do Estado com selo de Indicação Geográfica (IG) desenvolvido com o propósito de diferenciar o produto através da valorização da cultura, biodiversidade e economia da região. Para mais informações consulte a página institucional da IG cacau Tomé-Açu
Fundada em 1949, a Cooperativa mista de Tomé-Açu no Pará, é pioneira na organização de sistemas de plantio de agro-florestal, e tem uma história de sucesso em exportação de produtos agrícolas.