
Cadeias de valor com base na biodiversidade para geração de emprego e renda nos estados do Amazonas e São Paulo
Objetivo
O objetivo da pesquisa é identificar fatores críticos para elevar a competitividade de cadeias produtivas com base na biodiversidade no Estado do Amazonas, com alto potencial de consumo no Estado de São Paulo.
Serão analisados localmente os componentes das cadeias produtivas e identificados os fatores inibidores e propulsores de elevado desempenho para propor soluçõesque respondam aos problemas identificados.

O estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva-exploratória, e se fundamenta nos princípios de pesquisa-ação. O método utilizado será o estudo de caso múltiplos, considerando quatro unidades de análise – as cadeias do pirarucu, açaí, cacau e castanha do Brasil.
Ao término da pesquisa, serão priorizadas recomendações de políticas públicas nas esferas da geração de empregos e renda, da segurança alimentar e da educação para a cidadania. O conhecimento construído, que inclui a prospectiva tecnológica, será disseminado por meio de conteúdos impressos (livro e artigos) e digitais (site e vídeos).
A sistematização dos casos permitirá a identificação de práticas empresariais atuais e inovadoras, para a proposição de modelos replicáveis em outras cadeias setoriais.
Estes modelos incluirão métricas de monitoramento da governança nos componentes das cadeias produtivas e sua articulação.
Com o intuito de obter resultados e gerar impactos, os agentes de entidades privadas e públicas serão engajados desde o início dos estudos por intermédio de um conselho de orientação, no delineamento, realização, disseminação e monitoramento dos resultados empíricos.
Instituições Parceiras
Desafios científicos
A FEA USP tem realizado diversas iniciativas no Estado do Amazonas, entre as quais, o convênio DINTER/CAPES com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), com as atividades iniciadas em 2017, para a formação de 22 doutores e doutoras. A parceria foi estabelecida para contribuir com o desenvolvimento em uma região carente de programas de pós-graduação (apenas 3 programas de mestrado e um de doutorado, segundo o documento de área da CAPES 2016). Trata-se de nuclear num futuro próximo, um programa de doutorado em Administração na região amazônica. Além disso, com essa parceria, tem se consolidado uma robusta relação de pesquisa com a UEA e outros parceiros na região, na linha de inovação e sustentabilidade. Um dos resultados dessa parceria foi “I Congresso de Gestão da Amazônia”, realizado na cidade de Manaus em 2018 (ver https://amasconference.com/). O presente Projeto converge em seus objetivos com esse exemplo de parceria em andamento entre a FEA/USP e UEA. No entanto, os pesquisadores do Projeto preveem alguns desafios na operacionalização do estudo, conforme relacionado abaixo.
Engajamento de agentes público e privados
Um dos principais desafios será engajar entidades públicas e privadas desde o início do Projeto. Como o estudo pretende levar resultados e impactos para a ponta, será planejado para o primeiro semestre do Projeto um pré-workshop para delinear operacionalização do estudo e engajar ao longo dos 2 anos os principais atores agentes que serão destinatários dos resultados da pesquisa. Além disso, será estabelecido um Conselho de Orientação do projeto com integrantes de universidades, institutos de pesquisa e outras entidades públicas e privadas. Os objetivos do Conselho são orientar e auxiliar os pesquisadores pelo estudo na solução de eventuais dificuldades e desafios científicos, além de recomendar os meios e métodos para superá-los.
Logística para o trabalho de campo
É previsto alguns desafios de logística para o trabalho de campo, visto que o estudo analisará cadeias produtivas existentes em locais/comunidades afastadas dos grandes. Logo no início do Projeto será planejado a logística, incluindo viagens de campo, alocação de pesquisadores e custo do Projeto.
Processo para influenciar políticas públicas
Com base nos resultados empíricos do Projeto, pretende-se formular um conjunto de recomendações destinadas aos gestores públicos responsáveis por iniciativas que fomentem geração de renda e empregos, por meio do desenvolvimento de cadeias setoriais baseadas na biodiversidade. Considerando que o desenvolvimento de uma cadeia setorial competitiva é um processo complexo, e que demanda o envolvimento de diversos agentes com interesses distintos, o impacto da pesquisa exige métricas de monitoramento a serem desenvolvidas. Além da consulta do site do projeto e das suas páginas relacionadas às cadeias produtivas selecionadas, métricas relativas à geração de emprego e renda serão concebidas e discutidas com especialistas. Cabe, no entanto, observar que este impacto depende de diversas variáveis que não necessariamente são controladas ou influenciadas pelos pesquisadores do Projeto. Por isso, o estabelecimento de parcerias entre o poder público, comunidades extrativistas, entidades da sociedade civil organizada, empresas e investidores abre um leque de oportunidades para o desenvolvimento de projetos científicos complementares para dar continuidade às recomendações que serão propostas a partir dos resultados empíricos deste Projeto.
Inércia institucional e estrutura de poder das organizações
A inércia institucional e as estruturas burocráticas de poder nas organizações podem prejudicar o impacto almejado no Projeto. No entanto, o envolvimento desde o início das partes interessadas em políticas de fomento a cadeias produtivas visando geração de renda e emprego verde (ver Tabela 1), pode minimizar riscos de inércia institucional por parte das organizações. Há diversas instâncias e atividades previstas no Projeto onde serão envolvidos atores de organizações que devem ser influenciadas ou mobilizadas pelas recomendações que serão geradas no estudo, incluindo os workshops, reuniões com o Conselho Consultivo, e consultas públicas.
Triangulação de pesquisadores e de fontes
O levantamento de dados primários e as análises preliminares serão conduzidas por pesquisadores com pleno conhecimento das cadeias produtivas selecionadas, e contará com diferentes interpretações argumentativas, embora o instrumento de coleta seja o mesmo. O pesquisador que fará as análises e interpretações dos casos deverá identificar possíveis vieses nas análises feitas pelos diferentes pesquisadores. Além disso, deverá desenvolver argumentos fortes e imparciais baseados nos dados empíricos para concluir o estudo e elaborar o conjunto de recomendações para formuladores de políticas públicas na temática do Projeto.
Realização

Participação

Agências financiadoras

Resultados esperados
A Amazônia demanda ações imediatas. A necessidade de desenvolver serviços especializados, competências tecnológicas e capacidades institucionais para potencializar as oportunidades da biodiversidade por meio do aumento da produtividade, inclui desde o controle da qualidade de matérias primas, da logística competitiva para o acesso aos mercados nacional e internacional, até a certificação do produto final. As necessidades e oportunidades são inúmeras, como a formação de lideranças que responda aos desafios que a região está enfrentando, o desenvolvimento da economia da biodiversidade florestal baseado em tecnologia digital e inovação, uma governança focada em resultados. Em complemento, novos mecanismos de financiamento para iniciativas verdes e o pagamento por serviços ambientais, promoveriam a geração de emprego e renda para a manutenção da floresta em pé (Val, Marcovitch, & Pinsky, 2018, 18 de outubro).
A cientista Bertha Becker, em sua obra Geopolítica da Amazônia, destacou “o potencial amazônico para a produção em larga escala de produtos essenciais para a alimentação, capazes de garantir desenvolvimento em harmonia com o crescimento econômico, inclusão social e sustentabilidade ambiental” (2005). Para viabilizar este potencial a presente pesquisa se propõe a identificar fatores críticos para elevar a competitividade de cadeias produtivas com base na biodiversidade do Estado do Amazonas, com alto potencial de consumo no Estado de São Paulo. Trata-se, portanto, de promover cadeias produtivas cuja competitividade esteja harmonizada com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ONU, 2015), incluindo, erradicação da pobreza (ODS 1); a segurança alimentar (ODS 2); a geração de renda e empregos decentes (ODS 8); e a educação para proporcionar a jovens e adultos as habilidades e as competências para a cidadania, o emprego, o trabalho decente e o empreendedorismo (ODS 4).
O Estado de São Paulo destaca-se por ser o maior polo populacional, industrial e financeiro do Brasil. O Estado do Amazonas destaca-se por sua importância ambiental, uma vez que a região abriga parte significativa da maior floresta tropical do mundo. Neste contexto, a motivação dos pesquisadores é a de contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável no Estado do Amazonas e no Estado de São Paulo, com a produção e comercialização de alimentos tendo por base a biodiversidade amazônica.
Pretende-se levantar localmente os componentes das cadeias produtivas para identificar os fatores inibidores e propulsores de elevado desempenho e propor soluções para responder aos problemas identificados. Para isso, as tecnologias avançadas nas esferas da digitalização (ex. e-commerce), da mecânica (ex. 3D) e da biologia (ex. engenharia genética) oferecem novas perspectivas para a dissolução dos gargalos identificados. Um dos exemplos é o uso da energia solar para a refrigeração do pescado na cadeia produtiva da piscicultura no Estado do Amazonas e para a sua comercialização no Estado de São Paulo.
Por meio da sistematização dos casos, pretende-se propor modelos replicáveis em outras cadeias setoriais. Estes modelos incluirão métricas de monitoramento da governança nos componentes das cadeias produtivas e sua articulação. O intuito é estabelecer uma plataforma de articulação para o fomento de empreendimentos verdes que viabiliza o desenvolvimento local, por meio da geração de emprego e renda, e sirva de benchmarking para outros estados do bioma amazônico e do Brasil. Adicionalmente, agentes de entidades públicas e privadas serão engajados desde o início da pesquisa por intermédio de um Conselho de Orientação constituído por convidados integrantes das entidades descritas na Tabela 1.
O engajamento desses agentes, programado para a etapa inicial do projeto por meio de um pré-workshop na cidade de Manaus, será realizado para validar o delineamento da metodologia da pesquisa, escolha dos casos e experimentos que serão estudados, assim como alinhar as expectativas relacionadas aos resultados e impactos (outcome) do Projeto. Dessa forma, pretende-se afinar o desenho do projeto, por meio de um diálogo participativo e em sintonia com as demandas dos usuários prioritários do conhecimento que será gerado no estudo.
Destinatários do estudo
| Agentes Subnacionais | Governo do Estado do Amazonas; Secretaria de Estado do Trabalho (SETRAB); Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA); Polo Industrial de Manaus (PIM) |
| Agentes Municipais | Prefeitura de Manaus; Secretaria Municipal do Trabalho, Empreendedorismo e Inovação (SEMTEPI) |
| Entidades de Classe | FECOMÉRCIO, FIEAM |
| Sistema S | SENAI, SENAC, SEBRAE, e SESC |
| Empresas do Polo Industrial ZFM | Empresas globais do perfil da Honda, Samsung e Coca-Cola |
| Sociedade Civil Organizada | Organizações do perfil da FAS, IPAAM, IPAM, IDESAM e ISA |
| Academia e instituições de pesquisa | Embrapa, INPA, UFAM, UEA, pesquisadores, professores, alunos de graduação e pós-graduação |
Tabela 1: Principais destinatários do conhecimento construído no estudo
Além da geração de novos conhecimentos e recomendações de políticas públicas relativos a segurança alimentar, a geração de trabalho e renda no Estado do Amazonas, considerando também a crise econômica pós Covid-19, almeja-se propor recomendações de novas tecnologias aplicáveis à produção, ao beneficiamento, a certificação (como o Origens Brasil) e a distribuição dos produtos providos destas quatro cadeias produtivas do Estado do Amazonas, com alto potencial de consumo no Estado de São Paulo e em outros lugares do mundo. O conhecimento construído será disseminado e avaliado, conforme detalhado na Seção 5 desta Proposta.