Ao descrever os agentes econômicos e os ambientes institucionais do sistema do cacau (SAGCACAU) no Brasil, oferece uma visão da coordenação desse sistema a fim construir uma estrutura capaz de subsidiar a análise desse sistema sob o enfoque deste novo paradigma competitivo com base nos ODS de promoção da agricultura sustentável (ODS 2) e geração de empregos e renda decentes (ODS 8).
Com esses propósitos, este capítulo ambiciona dialogar e contribuir para as ações de diferentes partes interessadas na efetivação das condições de desenvolvimento sustentável a partir da competitividade de sistemas agroindustriais baseados na sociobiodiversidade, incluindo tomadores de decisão nos governos e empresas, organizações não governamentais e comunidades locais e tradicionais.
Sobre os autores: Lucas Xavier Trindade (PPGA/FEA/USP), Jacques Marcovitch (PPGA/FEA/USP) e João Pedro de Castro Nunes Pereira (DCET/PRONIT/UESC).
Este texto integra a coletânea dedicada aos estudos de cadeias produtivas agroindustriais. A coletânea é organizada por Gabriel da Silva Medina (UNB) e José Elenilson Cruz (IFB/Gama) com o título de “Estudos em Agronegócio: participação brasileira nas cadeias produtivas”, Editora Kelps, 2021. Download.
Essa matéria publicada na revista exame lista três iniciativas de rastreamento da cadeia do cacau e do chocolate por meio de tecnologias associadas ao uso de blockchain para criação de identificadores únicos para lotes produzidos e omercializados por grandes players do mercado.
Uma vantagem da aplicação desse tipo de tecnologia é a possibilidade de validação dos lotes, que permitirá, assim que os sistemas estiverem em uso, o rastreio seguro da produção em todas as etapas da cadeia.
Essas medidas, fazem parte de um conjunto de esforços globais para mitigação de problemas que se originam no uso de trabalho infantil, análogo à escravidão e precaridade do manejo nas etapas produtivas do fruto do cacau e nas etapas posteriores do beneficiamento do produto.
Dentre as iniciativas já em andamento, são citadas uma empresa holandesa Tony’s Chocolonely, um projeto de integração e rastreamento desenvolvida pela Maersk e IBM, e uma iniciativa no Brasil, tocada pela IG Sul da Bahia, que resulta da associação de diversas cooperativas de produtores da região.
Ampliar a compreensão de questões relativasàscadeias de valor com base na biodiversidade para a geração de emprego, renda e bem-estar nos estados do Amazonas e de São Paulo. Identificar fatores críticos para elevar a sustentabilidade das cadeias de valor no estado do Amazonas, com alto potencial de consumo no estado de São Paulo.
I Workshop
O I Workshop de Bioeconomia tem por objetivo elencar prioridades e metodologias para o estudo da biodiversidade na Amazônia. Serão apresentados e discutidos modelos para a análise dos componentes das cadeias de valor e metodologias para identificar os fatores inibidores e propulsores, em prol da sustentabilidade e que levem a ações que promovam a geração de emprego, renda e bem-estar.
Programa
Dia 02 de agosto segunda-feira
11h00 às 11h15 – Abertura
Fabio Frezatti, Diretor da FEA/USP;
Adalberto Luis Val, Projeto Bioeconomia INPA/Fapeam
Jacques Marcovitch, Projeto Bioeconomia USP/Fapesp
Sessão I
11h15 às 11h45 – Prioridades para o estudo da bioeconomia na Amazônia.
Luiz Eugênio Mello (FAPESP/São Paulo)
Carlos Roberto Bueno (FAS/Manaus)
Paulo Moutinho (IPAM Amazônia)
Lucia Py Daniel (INPA/Manaus)
Eduardo Coelho Cerqueira (UFPA/Belém)
11h45 às 12h05 – Bioeconomia e cadeias de valor: modelo, metodologia e ações.
Maria Sylvia Macchione Saes – FEA/USP.
12h05 às 12h20 – Perguntas e respostas.
12h20 às 12h30 – Síntese da sessão e recomendações.
Sessão II
16h00 às 16h20 – Bioeconomia na Amazônia: conceitos e práticas.
Vanessa Pinsky – FEA/USP
16h20 às 16h35 –Perguntas e respostas.
16h35 às 16h55 – Sustentabilidade financeira de reservas extrativistas na Amazônia.
Izabel Seabra – UEA
16h55 às 17h10 –Perguntas e respostas.
17h10 às 17h30 – Síntese da sessão e recomendações.
Dia 03 de agosto – terça-feira
Sessão III
11h00 às 11h20 – Compostos bioativos de plantas alimentícias para produtos com apelo funcional.
Glaucia Maria Pastore Engenharia de Alimentos/Unicamp
Valdely Ferreira Kinupp – IFAM.
11h20 às 11h35 – Perguntas e respostas.
11h35 às 11h55 – Bioeconomia do cacau amazônico: mercados e perspectivas.
Lucas Xavier – FEA/USP.
11h55 às 12h10 – Perguntas e respostas.
12h10 às 12h30 – Síntese e conclusões.
Sessão IV
16h00 às 16h20 – A integração da cadeia de fitoterápicos amazônicos.
Maria Beatriz Machado Bonacelli – DCP/Unicamp
Jorge Ivan Porto – INPA.
16h20 às 16h35 –Perguntas e respostas.
16h35 às 16:55 – Estratégias silviculturais para o manejo e conservação de florestas tropicais secundárias
Mário Tommasiello Filho – ESALQ/USP
Marciel Ferreira – UFAM.
16h55 às 17h10 –Perguntas e respostas.
17h10 às 17h30 – Síntese da sessão e recomendações
Dia 04 de agosto – quarta-feira
Sessão V
16h00 às 16h20 –Desenvolvimento de competências em bioeconomia.
Graziella Maria Comini – FEA/USP.
16h20 às 16h35 –Perguntas e respostas.
16h35 às 16h55 – Bioeconomia e Cadeias de Valor – Ferramentas de formação para Gestão de empreendimentos rurais.
Tatiana Balzon- GIZ GmbH, Cláudia de Souza, CapGestão
16h55 às 17h10 – Perguntas e respostas.
17h10 às 17h30 – Síntese e seguimento do I Workshop Bioeconomia.
Realização: Projeto Bioeconomia FEAUSP/FAPESP e INPA/FAPEAM
Por Walace de Jesus | Jornal da USP – Uma agroindústria flutuante foi inaugurada na Amazônia no último mês de maio. A Balsa-Açaí, como ficou conhecida, é uma indústria idealizada para processar frutas em comunidades mais distantes de Manaus, mas especialmente o açaí. O empreendimento é movido a luz solar e percorrerá os rios Amazonas, Solimões, Madeira, Purus, Juruá e Japurá. Com capacidade de armazenamento de 300 toneladas de açaí, o projeto pode transformar 20 toneladas de açaí por dia em 12 toneladas de polpa, além de beneficiar comunidades ribeirinhas com aumento de lucros e otimização do transporte do fruto.
A agroindústria é uma iniciativa do grupo Transportes Bertolini e da Valmont Solutions, que, juntos, investiram mais de R$ 20 milhões para a construção da plataforma flutuante. O primeiro destino da Balsa-Açaí foi Coari, município que fica a 363 quilômetros da capital amazonense. De acordo com o governo do Amazonas, o quilo do açaí no município está com valor médio de R$ 2,15 e a compra diária da indústria flutuante é de 400 sacas.
O amazônida e professor do Departamento de Ciências Florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo, Edson José Vidal da Silva, comenta que a iniciativa representa muitas vantagens para o mercado do açaí, mas que uma preocupação é a capacidade de produção da própria floresta. “A iniciativa é interessante, mas devemos nos preocupar com o manejo da espécie e pensar a produção de forma sustentável”, comenta.
“Quando pensamos em um produto não madeireiro e essa iniciativa não podemos esquecer a sustentabilidade da floresta em todas essas regiões em que a barca irá atuar”, explica. Para Vidal, é importante que a espécie consiga realizar suas taxas vitais para que não seja extinta localmente. “Se o fruto for exaustivamente retirado, impactos serão gerados para a fauna e à própria regeneração da espécie.”
Dentre a análise da nova indústria, o professor ressalta que a retirada da figura do atravessador e o maior aproveitamento do fruto são grandes vantagens para o sucesso da iniciativa. “Também podemos pensar em uma cadeia completa de aproveitamento dessa espécie para a economia dessas cidades”, sugere o professor. Além disso, para as comunidades ribeirinhas que moram distantes de Manaus, o projeto vai gerar otimização no transporte do fruto e maior lucro para os que o comercializam. “Vai reduzir o custo do transporte e também vai retirar a figura do atravessador, que acaba não deixando um recurso melhor para os ribeirinhos”, explica.
A iniciativa só pôde ser concretizada a partir da alteração do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) na Instrução Normativa n° 72/2018 com a Instrução Normativa n° 04/2021, que possibilitou o registro de estabelecimentos de produção de bebidas moveis a partir de critérios estabelecidos pela pasta da agricultura.
Vidal também revela que, além de relevância econômica, o açaí também tem importância nutricional para a população amazonense, que o consome não como uma simples sobremesa, mas muitas vezes como uma refeição completa. “É um produto importante e, ao longo do tempo, começou a entrar nas cidades com a migração do pessoal rural até se tornar esse fruto conhecido no mundo e aumentar o mercado”, explica. Ele também expressou sua preocupação em relação à acessibilidade dessas populações tradicionais ao fruto devido à crescente demanda.
Elton Alisson | Agência FAPESP – A conservação de ecossistemas, como áreas florestais, pantanosas ou ocupadas por pastagens naturais, e a restauração de áreas já degradadas são essenciais para enfrentar, conjuntamente, dois dos maiores desafios globais atualmente: as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade.
Essas soluções baseadas na natureza são especialmente importantes para serem implementadas no Brasil, uma vez que a maior parte das emissões de gases de efeito estufa (GEE) do país, que impulsionam o aquecimento global, está associada a mudanças no uso da terra, lideradas pelo desmatamento para abertura de áreas de pastagem ou agrícolas. A prática provoca a liberação de gás carbônico armazenado nas plantas e também a fragmentação e perda de hábitats, apontadas como duas das principais causas de declínio de espécies mundialmente.
A avaliação foi feita por pesquisadores palestrantes da segunda edição da série Conferências FAPESP 60 anos, com o tema “Mudanças climáticas e biodiversidade: os avanços da ciência”, realizada ontem (21/07). Os debates foram mediados por Ronaldo Pilli, vice-presidente da FAPESP.
“A conservação de áreas intactas representa hoje uma opção para manter os estoques de carbono. Já a restauração de áreas degradadas permitiria sequestrar carbono da atmosfera e a reconexão de fragmentos naturais, o que pode resultar em benefícios para a biodiversidade”, disse Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília (UnB).
De acordo com a pesquisadora, globalmente as mudanças no uso da terra e floresta representam 24% das emissões globais. No Brasil, atingem mais de 60% e vêm aumentando nos últimos anos em razão do desmatamento, principalmente da Floresta Amazônica.
Em 2019, por exemplo, o Brasil respondeu pela perda de um terço de florestas tropicais primárias no mundo e por 41% no período de 2002 a 2020.
“O que se observa é que essa perda de floresta primária vem ocorrendo acentuadamente em territórios indígenas, que tradicionalmente são áreas onde o desmatamento é muito baixo e que têm protegido a floresta ao longo dos últimos anos”, apontou.
Apesar de ocorrer em maior escala na Amazônia, essa perda não tem se restringido a esse bioma. Em 2020, o Cerrado perdeu uma área quatro vezes maior que a Grande São Paulo e o desmatamento tem crescido também da Mata Atlântica.
“Essas mudanças no uso do solo no Brasil representam uma via de mão dupla”, avaliou Bustamante.
“Ao mesmo tempo em que a conversão de vegetação nativa para a agropecuária, associada ao aumento da frequência de queimadas, tem impacto direto sobre as emissões de gases de efeito estufa, terá também impacto no setor agrícola, que será o que mais vai sofrer com as mudanças climáticas e com os efeitos das alterações na temperatura e na disponibilidade hídrica”, disse Bustamante.
Impactos na agricultura
Alguns dados apresentados por Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), referendam essas constatações.
Um estudo feito por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apresentado por Artaxo, indicou um aumento médio entre 4 ºC e 5,5 ºC na temperatura entre 2071 e 2099 na região central do Brasil, onde está estabelecido o agronegócio.
Outro estudo de autoria de pesquisadores da Embrapa Informática Agropecuária, publicado em 2019 e também citado por Artaxo, apontou que o Brasil está se tornando mais seco. As áreas no país com registro de alto índice de déficit de chuva, antes restritas à região do Nordeste, se estenderam para Goiás e Mato Grosso – dois dos principais Estados produtores de soja e carne.
“A economia brasileira baseada só na produção de carne e de soja, por exemplo, pode não ser competitiva daqui a dez anos ou mesmo na década atual”, disse Artaxo.
Segundo o pesquisador, as evidências das mudanças climáticas no planeta são extensas e incluem o aumento de eventos climáticos extremos, como as recentes inundações na Europa, ondas de calor nos Estados Unidos e no Canadá, crise hídrica no Brasil e aquecimento do oceano e da atmosfera.
As emissões de carbono, ele explica, estão fazendo com que as concentrações de gases que controlam o clima do planeta aumentem rapidamente – a de dióxido de carbono (CO2) aumentou 66%, a de metano 259% e a do óxido nitroso (N2O) 120% desde 1750 – e mudando a composição da atmosfera terrestre. Com isso, a temperatura do planeta já aumentou 1,2 ºC.
“Esse aumento de temperatura pode parecer pouco, mas é muito significativo para o funcionamento básico de um ecossistema. E tem contribuído para o aumento da frequência de eventos climáticos extremos que temos visto”, afirmou Artaxo.
De acordo com o pesquisador, a temperatura média nos continentes já aumentou 1,7 ºC, uma vez que eles aquecem muito mais do que o planeta como um todo porque os oceanos absorvem gigantescas quantidades de calor.
“Nos continentes, já ultrapassamos o limite seguro de aumento da temperatura, de 1,5 ºC, indicado pelo IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas]”, disse Artaxo.
Nos últimos 110 anos, a temperatura no Nordeste do Brasil, por exemplo, aumentou entre 2,2 ºC e 2,5 ºC. Já na região do Ártico aumentou mais de 3 ºC.
“Esse aumento muito significativo da temperatura afeta o funcionamento de ecossistemas, a biodiversidade, a saúde da pessoas e tem impactos socioeconômicos muito grandes”, afirmou Artaxo.
Impactos na biodiversidade
A partir de 2050, as mudanças climáticas podem se tornar o principal vetor da perda de biodiversidade global, apontou Carlos Joly, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp) e membro da coordenação do Programa BIOTA-FAPESP.
“Temos um conjunto enorme de fatores, que vão desde o aquecimento global, passando por mudanças na distribuição de chuvas, pela poluição, pelo uso excessivo de fertilizantes e pela introdução de espécies exóticas, entres outros fatores que têm exercido enorme pressão e levado ao desaparecimento de toda uma fauna de invertebrados”, apontou Joly.
Alguns desses invertebrados, como as abelhas, são importantíssimos para a manutenção da polinização das principais culturas agrícolas cultivadas em países como o Brasil, ele exemplificou.
O ritmo de perda de espécies indica que o mundo corre o sério risco de assistir nas próximas décadas a uma sexta extinção em massa.“A crise da biodiversidade está atingindo um limite muito perigoso”, afirmou Joly.
Na avaliação do pesquisador, enquanto a atual crise sanitária, causada pela pandemia de COVID-19, tem a perspectiva de ser solucionada nos próximos dois anos com o avanço da vacinação e a emergência climática poderá ser debelada em 100 a 150 anos com a redução significativa nas emissões de GEE, a perda da biodiversidade global poderá ser irreversível.
“Não vamos recuperar as espécies que estão sendo extintas hoje. Por isso, é preciso reverter as taxas de extinção antes que serviços ecossistêmicos [prestados pela natureza, como prover água limpa] sejam definitivamente comprometidos”, alertou.
A atuação da FAPESP no financiamento à pesquisa nesses dois temas – biodiversidade e mudanças climáticas – tem sido fundamental para o avanço dessas agendas em nível global, apontaram os participantes do evento.
“Cada vez mais diferentes nações e entidades supranacionais, mas também empresas responsáveis e partidos políticos têm fortalecido uma agenda que privilegia esses dois tópicos”, avaliou Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP.
“No Brasil, a FAPESP, a ABC [Academia Brasileira de Ciências], a SBPC [Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência], a Aciesp [Academia de Ciências do Estado de São Paulo] e as nossas universidades têm liderado um movimento para fundamentar o desenvolvimento do conhecimento baseado na pesquisa sobre a biodiversidade e as mudanças climáticas globais”, afirmou Zago.
A íntegra da Conferência pode ser assistida no youtube: