Metodologia

Os procedimentos metodológicos adotados em uma pesquisa científica são  influenciados pela perspectiva e paradigma adotado pelo pesquisador em relação à  construção do conhecimento (Selltiz, 1974) e implicam em diferentes habilidades,  pressupostos e práticas de pesquisa (Pozzebon & Petrini, 2013). Este projeto optou  por uma abordagem qualitativa que tem como fundamento a busca pela  proximidade em relação ao objeto estudado de forma a entender os elementos  contextuais e suas inter-relações com mais profundidade (Van Maanen, 1979). A  opção pela abordagem qualitativa deve-se à constatação de que os estudos  existentes sobre cadeias produtivas com base na biodiversidade são escassos,  muitas vezes conduzidos em contextos diversos da realidade brasileira e com  limitado potencial explicativo para elucidar as questões do estudo. 

O estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva-exploratória, e se  fundamenta nos princípios de pesquisa-ação a qual tem por finalidade possibilitar  aos sujeitos da pesquisa, participantes e pesquisadores, os meios para  conseguirem responder aos problemas que vivenciam com maior eficiência e com  base em uma ação transformadora, ou seja, é uma investigação que pressupõe  como resultado o aprimoramento da prática social (Thiollent, 2011).  

O planejamento da pesquisa e a escolha do método devem ser compatíveis  com o objetivo da investigação (Miles & Huberman, 1984). Dentre os quatro tipos de  objetivos elencados por Selltiz et al. (1974), a pesquisa realizada alinha-se a dois  deles: (1) familiarizar-se com o fenômeno ou conseguir nova compreensão deste,  frequentemente para poder formular um problema de investigação mais preciso ou  criar novas hipóteses; e (2) descrever as características de uma situação, um grupo,  um fenômeno ou caso específico, geralmente, para compreender sua natureza e  formas de manifestação. 

O método utilizado é estudo de múltiplos casos o qual tem a vantagem de  permitir a identificação de similaridades e diferenças (Eisenhardt, 1989; Yin, 2010).  Estudos de caso, caracterizados pelo fato de não serem definitivos, mas visarem ao subsídio de estudos futuros, suportam os objetivos determinados na pesquisa, de  natureza holística, não sendo possível separar o fenômeno do seu contexto.  Este projeto utilizará análise de conteúdo por meio de seleção temática  (Vergara, 2015) em três etapas: pré-análise (coleta e organização do material),  descrição analítica (definição de unidades de análises e categorias temáticas) e  interpretação inferencial (os conteúdos são revelados em função dos propósitos do  estudo). Eisenhardt (1989) recomenda que seja feita, primeiramente, uma análise  detalhada de cada caso (within-case analysis) para em seguida buscar a  identificação de padrões entre os casos (cross-case patterns) por meio de  categorias elaboradas a partir do problema de investigação. 

A coleta de dados deve se basear em diversas fontes de evidências,  inclusive, permitindo a combinação de diversas técnicas (Bandeira-de-Mello, 2006).  Nesse sentido, objetiva-se desenvolver um encadeamento das evidências a fim de  aumentar a confiabilidade das informações, pois a convergência de resultados  advindos de fontes distintas oferece um excelente grau de confiabilidade ao estudo  (Martins, 2008). Todas as etapas deste estudo se beneficiarão de dados  secundários de publicações especializadas, artigos científicos, livros e relatórios  setoriais. Os dados primários serão coletados com o propósito de completar o  projeto de pesquisa que tem uma característica interpretativa, sendo coletados com  o uso das técnicas de observação, entrevistas, análise de documentos e materiais  audiovisuais, como vídeos e fotografias (Creswell, 2017). 

Quatro cadeias produtivas com base na biodiversidade serão foco desta  pesquisa (pirarucu, cacau, açaí e castanha do Brasil), denominadas unidades de  análise do estudo. Para efeito desta pesquisa, entende-se por cadeia produtiva os  componentes que incluem os sistemas produtivos, os fornecedores de insumos, as  indústrias de processamento e transformação, os serviços de controle de qualidade  e certificação, os agentes de distribuição e comercialização, os consumidores finais,  e as centrais de atendimento pós-venda (Lima, Freitas Filho, Castro, & Souza,  2000). Cadeias da biodiversidade são projetos inovadores que consideram,  simultaneamente, a conservação ambiental, a responsabilidade social, a viabilidade  econômica e o respeito à diversidade cultural. Assim, são projetos que revelem  através de sua prática o potencial de transformação do Estado do Amazonas em  prol do seu desenvolvimento sustentável (Becker, 2005).  

Com referência ao Modelo de Análise, o estudo prevê o mapeamento das  cadeias produtivas selecionadas, de acordo com o fluxo dos produtos: consumidor,  processador, produtor rural e insumos.

FIGURA 1: MODELO DE ANÁLISE 
Fonte: Adaptado de Saes, Farina (1999); Saes, Silveira, 2014; Saes, Souza, Silveira (2019) 

  1. Condições Básicas: Infraestrutura e política pública e Recursos (humanos /  edafoclimáticos): logística, armazenamento, crédito/ financiamento, conectividade e  acesso aos serviços digitais, centro de pesquisas etc. 
  2. Descrição do Ambiente Institucional (regras e normas). Análise das restrições  institucionais (regras formais), assim como a descrição das regras informais que  condicionam o desempenho da cadeia. Estratégias de rotulagem, certificação etc. 
  3. Descrição do Ambiente Competitivo (qualificação as estratégias e recursos) e  desempenho, dos setores em que estas cadeias estão inseridas. Linhas de produto  (diferenciação / segmentação), estratégias de marca, parcerias, ações coletivas. 
  4. Descrição do Ambiente Tecnológico. Paradigma tecnológico (status quo) e das  oportunidades de inovação na cadeia, startups e outras formas de empreendimento,  uso de recursos sustentáveis. 
  5. Descrição das Mesoinstituições (instituições que implementam as regras:  públicas e privadas).  
  6. Descrição das Transações entre as etapas produtivas. Mapeamento de  contratos formas de coordenação, parcerias, estratégia coletiva, distribuição.
  7. Análise da Demanda: elasticidade / preço, segmentação, mercado de nicho /  commodity, etc.  

Para isso prevê dois tipos de abordagem: (1) Busca de dados secundários  (como: número de empresas em cada etapa da cadeia, tamanho do mercado,  desempenho financeiro, geração de emprego, etc.) sobre o setor a partir de sites e  Associações privadas podem disponibilizar, além de revisão bibliográfica. (2)  entrevistas em profundidade com especialistas dos setores, executivos das  empresas processadoras assim como outros especialistas: pesquisadores,  lideranças setoriais. Após o primeiro mapeamento está previsto a realização de um  workshop com agentes de cada setor para apresentar os resultados parciais com o  objetivo de validá-los e discutir estratégias. A seguir, uma breve introdução sobre as  cadeias produtivas que serão estudadas